domingo, 31 de outubro de 2010

Capítulo 6 – Pacto

A viagem de volta fora um tanto quanto tensa. Indubitavelmente as duas jovens se esforçaram ao máximo, não deixando – ou pelo menos tentando – transparecer preocupação. O relacionamento ia bem, é verdade, mas a obrigação que possuíam tornava-se mais e mais constante em suas conversas.

Em Mônaco, Michiru percebera que por mais distante que estivessem do local onde se desencadearia a batalha, a missão sempre as encontraria. O Aqua Mirror mostrara rostos de jovens, que a Sailor dos Mares não conseguia distinguir muito bem, até porque logo as mesmas faces transformavam-se em vultos ou sombras, apontando que mais vítimas passariam pela mesma tragédia, na qual o rapaz no autódromo, teve de enfrentar.

No avião, Neptune lembrava das últimas revelações mostradas em seu espelho, pensou em contar para sua parceira, mas desistiu da idéia quando viu o rosto da mesma. Haruka estava dormindo, e parecia sonhar os sonhos dos justos. Tão em paz; pelo menos por enquanto. Contudo, Michiru não sabia que as visões que tivera, perturbavam também o sono da velocista. Ela tinha medo.

Bem, a apreensão era uma sensação completamente cabível para o que as aguardava em Tóquio. Muitas batalhas viriam a ser traçadas naquele lugar. Todavia, o medo de Uranus estava focado naquela que a acompanhava...

- Haruka? Acorde, nós chegamos. – dizia enquanto passava a mão pelos cabelos da jovem.

- Hã? A-ah...sim, sim... Estou tão cansada... – levanta-se da poltrona espreguiçando-se.

- Você dormiu boa parte da viagem, por que raios está cansada? – ajeitava a gola da camisa da outra jovem, que sorria.

- Bom, digamos que o sonho que tive consumiu minhas energias... – ria maliciosamente, enquanto empurrava o carrinho com as malas.

- Ah, é? E com o quê sonhou? Não foi com aquela aeromoça loira, foi? – perguntava uns dois passos adiante de Haruka – Estava se dando tão bem com ela...

- M-Michiru! – apressa-se com o carrinho, seguindo-a – Claro que não! A garota com a qual sonhei é muito mais interessante... – sorri.

- Ah...e qual a relação com “consumiu minhas energias”? – esboçava um sorriso, que Haruka percebera.

- Hum...é proibido para menores de dezoito... – ria, colocando um dos braços em volta dos ombros da outra garota.

- Você também é menor de dezoito, engraçadinha...

Na verdade, o sonho da jovem loira nada tivera de cômico ou provocante. Sonhara com Michiru de fato, entretanto vira aquela que amava lutar contra o que parecia ser o Enviado do Mal e perecido, salvando sua vida. No momento que Neptune acordou-a no avião, decidira que nada ia comentar, talvez, se inventasse uma história boba, Michiru pudesse rir, e vendo sua alegria, seu coração ficasse menos contrito...
[...]

- E-eu não sei se vou conseguir... 

- Ah, princesa...é só ir devagarzinho. Mantenha-se nessa posição, sim?

- Você fala isso porque já tem experiência...

- Com uma “sensei” como eu, você vai se tornar mestra nisso... – ria.

As duas jovens se encontravam em um estacionamento vazio, onde Haruka – como prometera – ensinava os primeiros passos à Michiru, que se sentia pouco à vontade ao ficar no controle do carro da parceira.

- Ei Michiru... – falava com um sorriso levado – Se alguém nos ouvisse, poderia pensar que estávamos falando de outra coisa...

- S-só você mesmo pra pensar numa coisa dessas... – ruborizara.

- Suas reações são tão divertidas princesa... – ria, ajeitando o retrovisor.

- Depois não sabe por que tem a fama que tem... – provoca-a.

- Ué...não foi você mesma que disse que a impressão que eu causo supera qualquer fama?

- Exato, mas às vezes você não se esforça pra mudar certa fama não é? – perguntava arqueando uma das sobrancelhas.

- B-bom...mas...

- Estou te provocando...baka... – sorria, para em seguida beijá-la.

- “Michiru-san”, como sua sensei, eu posso acabar a aula mais cedo, não é? – beija-a, enquanto a garota livrava-se do cinto de segurança, dando mais liberdade ao próprio corpo para virar-se.

- Bom, então acho que estou dispen... – vira-se, de súbito.

- Você...

- Sim.

Correndo, as duas se retiram dali. Haviam sentido uma presença maligna. Pegando rapidamente o Aqua Mirror, e já transformada, Sailor Neptune, atenta na direção da nova vítima. Seguindo um brilho vermelho, Uranus acena para sua parceira, que logo chega ao local.

- Eu vou pela direita, me dê cobertura Neptune – sussurra Uranus avistando o inimigo.

- Espere, é imprudente atacar agora – diz segurando um dos braços da parceira – No local onde ele se encontra, se o nosso ataque for desviado, pode atingir inocentes.

- O que sugere então? Não temos muito tempo, logo ele vai se aproximar de uma área mais movimentada.

- Uma de nós pode servir de isca, atraindo-o até o estacionamento, que está vazio. Quando ele chegar, nos juntamos novamente e o atacamos de uma vez, combinando nossas forças.

- Está bem, serei a isca então, sou mais veloz e consigo manter uma distância segura até que ele esteja no local combinado, está bem?

Após a resposta afirmativa de sua companheira, Uranus vai ao encontro do monstro, outrora, uma jovem estudante que saía de mais um dia de aula, aparentava ter menos de quinze e fora possuída enquanto esperava o ônibus, perto dali. A criatura logo nota a presença da Sailor e a ataca.

Uranus desvia. O monstro aparenta cair na armadilha, pois a segue até o estacionamento. Não perdendo tempo, Sailor Uranus desfere seu primeiro golpe. Certeiro. Atordoada, a criatura cai; hora de Neptune invocar seu Maremoto, e o faz. Precisa. Uranus prepara-se para atacar novamente, mas antes que o faça, a Sailor dos Mares a impede, indicando que o monstro desaparecera, dando lugar a uma jovenzinha.
Parecia dormir apenas. Neptune aproximou-se da garota, sentiu sua pulsação e fez um gesto para que sua parceira também chegasse perto, avisando que ela estava só inconsciente. Cautelosamente, Uranus observa a menina, enquanto a outra Sailor investigava quem seria a vítima. Em um dos bolsos, encontra a carteira de estudante. Só tinha doze anos.

- Ara...é só uma crianç – “Michiru!!” – grita Uranus empurrando sua parceira longe.

A menina tinha os olhos vermelhos – talvez na última tentativa do monstro de possuí-la – e seus dentes trincavam. Numa fração de segundo, Uranus estava sendo estrangulada pela criatura. Antes que Neptune conseguisse se mover, porém, a Sailor dos Ventos em um contragolpe, atira a jovem por sobre seus ombros, que, mais uma vez cai inconsciente. O monstro a libertara.

- Uranus!! – corre até sua parceira, que tossia, com a mão na garganta.

- E-eu, estou bem...Neptune, não se preocupe... – subitamente, é abraçada pela outra jovem, que parecia esconder o rosto em seu peito.

- Por que fez uma loucura dessas Uranus?! – abafava um grito, ainda abraçada com Haruka.
- Eu não poderia deixar você se ferir...Michiru.

- Foi tudo culpa minha!! Por um descuido meu você quase... – não conseguira pronunciar a última palavra e suas lágrimas já escorriam pelo rosto.

- Você... – fazendo a jovem encará-la – É a única por quem eu arriscaria a missão, Michiru... – desviava o olhar.

- Haruka... – a olha surpresa.

- Vamos, temos de levar a garota em segurança... – sorria.

Em silêncio, Neptune e Uranus se voltam para a menina, que aos poucos estava acordando. Perto dali, no metrô elas deixam a jovem – que as olhava assustada – para ir finalmente para casa.

- S-sua mão...está sangrando...

- Ah...isso. Bom, acho que a arranhei quando caí...não se preocupe.

“As coisas podem se complicar, se eu não fizer algo.” – pensava a Sailor dos Mares enquanto entrava no carro da outra jovem. Sua preocupação advinha do comportamento que Uranus mostrara em batalha. Ela a protegera. Tempo atrás, Neptune havia feito a mesma coisa pela companheira, porque a amava também. Todavia, ela tinha o pretexto de que estava “recrutando” a velocista para desempenhar a missão destinada.

Haruka fizera aquilo claramente pelo sentimento que possuía. Isso não era bom. Ou melhor, isso não era...adequado. Seu coração estava dividido. Por um lado, ficara imensuravelmente feliz com a declaração da loira; por outro, o futuro de suas missões a preocupava. “E se isso tornar a acontecer? E se ela ferir-se gravemente da próxima vez que se arriscar por mim? E se...eu perdê-la?”.

A inquietação de Michiru, é percebida por Haruka, que ainda dirigindo à caminho de seu apartamento, pergunta:
 
- Algum problema Michiru?

- Nós...precisamos conversar... – revelava sem encarar a jovem.

[...]

Já no apartamento, Michiru dirige-se à varanda, observando o trânsito de Tóquio. “Ela não faz idéia...” – pensava cerrando os olhos, relembrando por um momento o que acabara de passar. A outra jovem, voltava da cozinha, onde deixara os copos, ainda com um pouco do suco que tinha servido. Vira Neptune na varanda, tão imersa em seus próprios pensamentos. Não gostava de vê-la assim. Normalmente respeitava o silêncio da garota, apenas a abraçando sem dizer nada. Costumava adiantar; quando a Sailor dos Mares sentia os braços de Uranus envolvendo seu corpo, era como se fosse puxada novamente à superfície. Salva de ser tragada por pensamentos sombrios. 

- O que há Michiru? – quebrara o padrão. Dessa vez perguntava sentada no sofá.

- Haruka...foi a última vez que isso ocorreu... – dizia ainda de costas para a jovem. Doía-lhe tanto pronunciar tais palavras.

- Isso...o quê? – sua expressão ficara séria, e por um momento ameaçara levantar do sofá, quando viu que a própria Michiru sentara-se ao seu lado.

- Não podemos colocar a missão em risco. Sua atitude hoje, como Sailor, não pode se repetir...nós não temos o direito de interf... 

- Você também fez a mesma coisa Michiru! No autódromo... – interferia com um pesar que a outra ainda não tinha visto. Desviava o olhar, procurando esconder seu desespero.

- Eu sei o que fiz Haruka, não é necessário me lembrar. Não me arrependo do que fiz, mas...

- E você pensa que eu me arrependo?! Eu faria tudo outra vez! – a interrompia alterando sua voz e levantava do sofá com a cabeça baixa.

- O problema é justamente esse. Por favor, entenda. Se ficarmos preocupadas uma com a outra em batalha...as chances de fracasso aumentam. Por isso, se alguma coisa acontecer comigo – pausa por um momento, levanta do sofá e se aproxima de Haruka – Eu quero que siga.
- Não pode me pedir isso, Michiru... – falava baixinho, e lentamente se aproximava da garota – Não me proíba de te proteger...

Michiru a fitava, tentando conter suas lágrimas, talvez se conseguisse parecer forte, Haruka lhe atendesse. Em vão. Uma, depois outra...e mais uma lágrima caía. Sua cabeça pendia; já que não podia controlá-las, pelo menos que a velocista não as visse escorrendo pela face. Porém, um inesperado abraço, faz a violinista perder o controle que tanto lhe custara manter. Ela chora. A voz de Haruka saía em tom calmo, seguro e gentil. Não era comum ouvi-la assim, mas também não era comum estar apaixonada...

“Eu prometo Michiru...tem a minha palavra. Não porei em risco a missão...” – abraçava-a ainda fortemente. “É nosso pacto. Mas o mesmo vale para você” – completava. A jovem consente com o que acabara de escutar. Uranus entendera os motivos de sua amada. Dos cinco estágios, estava no de “Aceitação”. Passara rapidamente pelo de raiva e negação e agora entendia que o sentimento que as unia era eterno. O que ela não notara, é que descumprira a promessa, só mais uma vez. Naquele instante, Michiru fora salva. “Mentirosa...” – pensava a violinista, que não continha um sorriso fraco.

(continua)
 

Um comentário:

  1. Olá!!

    Não gosto muito desse anime/mangá... rsrs Mas a fic é ótima!!! Mas pelo q me lembro, a Haruka não é fiel, pelo contrário... Joga charme pra todo mundo, inclusive na frente de Michiru... Aqui na fic ela tb vai fazer isso? Sempre achei sacanagem no anime, espero q ela continue assim, tão fiel, na fic rsrsrs

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