Capítulo 2 - Curando Feridas

Capítulo 2 – Curando feridas.

- Bom, eu não espero que me perdoe pelas coisas que disse... mas podemos começar de novo?...Sou Tenoh Haruka, "estrela dos carros de corrida"... – brincava, parafraseando Michiru.

- Não me julgue assim... É claro que eu te perdoaria...  Bom, eu sou Kaioh Michiru, violinista e... pintora "nas horas vagas" – sorri – É um prazer..."conhecê-la"? – ria, aceitando o cumprimento.

- O prazer é todo meu, Michiru...Michiru-san... – falava demonstrando certo nervosismo.

- Não precisa disso... – cora um pouco, se referindo à formalidade da outra garota.

- H-hai...então pode me chamar de Haruka...  Bom, seus curativos estão feitos. 

- Ah, muito obrigada, Teno... – pára – Haruka – sorri.

- Te vejo de novo? – indagava, vendo a garota se levantar.

- Eu...espero que sim... – dizia, um pouco corada.

Os lábios da velocista pareciam não acompanhar os milhões de pensamentos; formulava pretextos para rever a violinista. Michiru a deixara intrigada. Estava surpresa com os próprios planos, queria a chance de conhecer a garota melhor... Por que não usar um treinamento como isca?

- Bom, eu conheço um lugar para...treinarmos... 

Ao ouvir, Neptune parecia um tanto desapontada, mesmo repreendendo-se pela reação. Afinal, seriam parceiras em missões, nada mais. Não podia esperar que a loira reagisse aos comentários – inapropriados, julgava agora – no autódromo. Numa espécie de luta interna a jovem tentava manter a compostura, mesmo desejando que as suas palavras tivessem afetado a corredora... E tinham.

 - Claro... afinal, não sabemos quando o inimigo atacará, não é? Ah...então quando podemos começar o treinamento? Embora eu não tenha tanta experiência...

- Amanhã mesmo, se puder. Depois podemos... – amaldiçoando mentalmente o telefone, Uranus suspira enquanto caminha até a mesa, atendendo a ligação. Era seu técnico.

“Oe, não precisa gritar... Não, saí por causa de um...imprevisto. Como assim? Não preciso dar detalhes! Está bem, até mais.” – Haruka tornava a olhar Neptune, que agora, estava perto da porta.

- Eu...preciso ir – dizia sorrindo levemente – Obrigada pelos curativos, tenho certeza que seria bem mais difícil se não tivesse ajuda... e ainda atrapalhei seu treino, não?

- Não, não se desculpe. – sorria – O treino havia acabado, ele só queria falar comigo, provavelmente bobagens... – suspira – Além do mais não tenho que dar satisfações de todos os meus passos, quanto mais agora que lutarei com saiazinhas... – revirava os olhos.

- É verdade, não é algo que espalhamos com prazer... – riu Michiru, concordando.

- Michiru...

- Sim? 

- Não quer carona para voltar?

- Eu estaria abusando muito da sua gentileza, não precisa Haruka.

- Não é gentileza...ganho a vida como taxista nas horas vagas...

- Como?

- Estou...brincando... – sorria ao ver a violinista cobrir a boca, rindo – Não tem problema mesmo, aceite.

- Tudo bem, arigatou.

- Deixe-me só trancar a porta, não quero que roubem hã...minha poltrona, a única coisa que tenho de valor aqui... – brincava.

- Aposto que suas fãs levariam até o piso do apartamento – ria. 

- É? Os objetos de “Kaioh Michiru” fariam miséria em um leilão – sorria de volta enquanto esperavam o elevador. 

O clima tinha melhorado. Consideravelmente. Era reconfortante perceber que derrubaram alguns rótulos naquela conversa. Já no carro, Uranus era orientada por Neptune, indicando o caminho da casa. 

- Na próxima rua, pode virar à esquerda. Estamos bem perto. Haruka...estamos indo...rápido...não? 

- Não se preocupe, não há perigo... – pausava, séria – O vidro do carro é temperado, se voarmos em direção... – ria ao ver Michiru apertando a saia entre os dedos – Oe, é brincadeira... não queria te assustar. 

- Sabe...você é realmente diferente dos que as pessoas falam...não que eu já não tivesse percebido – sorria, realmente feliz por ver outros lados da velocista. 

- Chegamos... – iria até comentar sobre o tamanho da Mansão Kaioh, mas ponderou. A jovem ficaria constrangida – Michiru...poderia me dar o número do seu telefone? É que...bom, precisamos combinar o local dos treinos...

- Ah, claro! Como sou distraída, devia ter passado já no apartamento. Aqui está. E...Haruka, obrigada por me trazer... – antes de abrir a porta, falava – Por que não entra? Pelo menos para tomar água...ou um chá...

- Não se incomode...

- Eu insisto, por favor, entre.

- Bom, aceitarei o convite então...

Os jornais tinham esculpido imagens de uma mansão deslumbrante, e realmente era. O jardim à esquerda havia sido claramente obra de um paisagista renomado. À direita, um pouco mais a frente, uma bela fonte. Alguns passos, dois bancos e uma mesa completavam harmoniosamente o visual. 

A violinista parecia empolgada em ter a loira em sua casa. Depois de cumprimentar uma das empregadas da mansão, pediu-lhe um suco.

- Quando eu era mais nova, costumava acordar cedinho, descer as escadas correndo para pintar no jardim. Meu cavalete costumava ficar lá – sorria, antes de notar a figura que acabara de descer a escadaria. Sua mãe.

“Ora, quando pretendia apresentar o jovem, Michiru? Estudam juntos?” – sorria discretamente. 

Estava de saída, mas o comportamento inusitado da filha fizera-a esperar. Tinha organizado tantos jantares dissimulando intenções... Selecionara rapazes minuciosamente, seguindo critérios que faziam seu marido bocejar. A violinista costumava organizar sua agenda, coincidentemente marcando concertos em tais ocasiões promovidas pela mãe. 

- Ah, mamãe...esta é Tenoh Haruka. Uma...amiga. – enfatizava o substantivo feminino, não queria mais constrangimentos.

- Senhora Kaioh, é um prazer conhecê-la. – Haruka esboçava um sorriso, estava acostumada a tais confusões.

Enquanto a loira bebericava o suco servido, a senhora parecia analisá-la. Percebera o sorriso demasiadamente gentil de Uranus à moça que lhe servira, assim como seus trajes e modos masculinos. Conhecendo os hábitos da mãe, Michiru procurou conversar trivialidades.

- Ah, estudamos juntas sim, Haruka fez a gentileza de me dar uma carona...

“Oh sim, obrigada, Tenoh-san...” – dizia a mulher sorrindo levemente, restringindo-se a formalidades antes de pegar sua bolsa e dirigir-se à porta.

- Foi um prazer, senhora – dizia a loira olhando a mulher já na porta, que acenava brevemente para Michiru. Esta, assim que viu sua mãe sair, virou-se para a corredora.

- Haruka, perdoe minha mãe... Às vezes ela... – a outra jovem sorria, balançando a cabeça negativamente.

- Não se preocupe, Michiru... estou acostumada. Bom, eu tenho que ir agora... obrigado pelo suco, estava muito bom. – falava a loira, que já se dirigia à porta.

- Mais uma vez obrigada – disse seguindo-a. 

- Não há de quê. Eu te ligo, ok? Ah, e cuide... – pausava, baixando o tom de voz – ...dos ferimentos, uma compressa também é bom para diminuir as dores.

- Certo. – sorria a violinista, ato que deixou a velocista ruborizada. A beleza de Neptune definitivamente não era de ignorar.

- E-eu vou indo! Se cuida. – corava, saindo apressada em direção ao carro.

- Até mais... – a adolescente fechara a porta e subira para o quarto, antes que um dos empregados a visse corada. Não pôde evitar sussurrar o nome da velocista enquanto deitava na cama.

Minutos depois, Haruka chega em casa...onde, só ao passar a chave na porta, percebe que estava completamente absorta por aquela que tinha acabado de encontrar. Senta-se no sofá, mas segundos depois, nervosa, dirige-se à varanda onde olhando para o céu, sente seu coração palpitar...só de fazer menção à pronúncia do nome de Michiru. “O que há comigo?” – questionava-se a garota passando a mão pelas mechas loiras. 

A jovem espanta-se com as sensações que a outra garota estava provocando...queria vê-la mais uma vez, ou duas ou...eternamente... Na verdade, mal podia esperar para treinar com Neptune. Não que treinar realmente estivesse importando tanto naquele momento... Como seria daqui para frente? Em que tipo de luta se envolveria? Aliás, se envolveria com Kaioh Michiru?

E foi com mil e um pensamentos que Haruka afastou-se da varanda, onde voltou ao sofá...e acabou adormecendo...impedindo inconscientemente que Michiru fugisse de sua mente...

Sonhara com ela.

(continua)