quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Capítulo 4 – Quando o vento encontra o mar (parte 2)

Capítulo 4 – Quando o vento encontra o mar (parte 2)

Alguns milésimos de segundo transcorreram até que os lábios da violinista correspondessem ao beijo de Uranus. A respiração pesada da loira fora a transição da primordial delicadeza à urgência que o ato ganhou. Os constantes sons provenientes do ambiente foram, aos poucos se dissipando, como as cores de uma tela diluída por solventes...
Ao longe, som de uma buzina, seguido pelo ruído característico de velocidade dos automóveis. Nem mesmo a intermitente agitação do mar pôde tirar as jovens do transe, e Michiru expunha naquele beijo o que quase à lágrimas, falou no autódromo. Amava Haruka.

De cerrados, os olhos verdes da velocista agora observavam o rosto à frente. Vermelho. Então, tirando uma das mãos que acariciavam a face da outra jovem, empurra-a levemente, perplexa pelo que acabara de fazer. Acreditava ter estragado o relacionamento com a bela Neptune. Amaldiçoava sua impulsividade.

- Michiru! E-eu...mil perdões... – se afastava um pouco –  Eu estraguei tudo... – ruborizara, mal conseguia encarar Neptune. 

A violinista, que estava pasma e ofegante, olhava a corredora com uma das mãos sobre os lábios, tentava formular uma frase coerente. Não podia acreditar que aquilo ocorrera. O beijo, apesar de curto, fora intenso. E muito melhor do que havia imaginado.

- Haruka... eu... quero dizer... não estragou.. só...

- Eu...sei que estraguei Michiru... Eu não queria forçar nada, é que...é que...eu sei que é uma péssima desculpa...mas não pude evitar...aliás, eu não quis evitar...me desculpe, sinceramente... – seu rosto queimava de vergonha. Continha sua reação, apertando com as duas mãos o tecido da calça.

- Haruka... – tocava levemente seu rosto, fazendo-a olhar para ela, tentava se recompor – Você não tem pelo quê se desculpar... nesse tempo todo eu pensei que você não... – hesitava, ainda não conseguira assimilar completamente o que se passava.

- Eu não o quê...? – olhava-a confusa.

- Eu pensei que você não... partilhasse dos mesmos...Eu não sei como te dizer isso... – a fitava tentado se expressar o melhor que podia. Ainda não lhe parecia real que aquilo que ela tanto sonhara estava acontecendo.

- Você tem ocupado meus pensamentos. – suspirava, antes de falar finalmente confiante – Agora entendi o que Yoshiro disse sobre "estar longe"...na verdade, eu estava com você. Em meus pensamentos... – se aproximava mais uma vez, dessa vez acariciando o rosto dela.

- Então nós devíamos estar juntas em nossos pensamentos... – sorri – Eu também compreendi porque tenho me perdido tanto nas minhas músicas ultimamente... Tentei evitar certos assuntos porque tive medo de não conseguir esconder meus sentimentos por mais tempo. Desde aquele dia no autódromo...Eu tive certeza de que não me enganara quanto aos meus sentimentos. Mas depois, eu achei que, se você notasse o que eu sentia, se afastaria de mim... E eu não posso suportar essa idéia...

- Aquilo me deixou confusa, eu até pensei que tivesse entendido errado o que você tinha falado naquele dia, tudo estava acontecendo tão rápido, acho que não assimilei. Mas depois, começamos a treinar...e...passar tanto tempo juntas...que um único dia sem falar com você era...insuportável. Fiquei com medo que tivesse se arrependido por ter falado aquilo pra mim...  Foi então que me dei conta...não queria tirá-la dos meus pensamentos

- Eu me sufocava pra não te dizer tantas coisas... pra não contar... Tinha tanta certeza que não era correspondida que levei tanto tempo para desconfiar de algo... Eu só... só queria estar com você...

O breve e confuso desabafo mudou os semblantes das jovens. Agora sorriam, timidamente. Em meio a toda aquela desordenada conversa puderam se encontrar e entender...compartiam dos mesmos sentimentos.

- Michiru... – beijava-a agora demoradamente, passando a mão pelos seus cabelos...como se estivesse desesperada para tocá-la, talvez acreditando que aquilo fosse durar uma noite só. Afinal não sabia o que esperar da missão que lhe fora designada. A outra jovem deixava-se envolver pelo contato, retribuindo o carinho sentindo os olhos embaçarem. 

- Haruka... por tanto tempo eu quis dizer que... me apaixonei por você.  – dizia calmamente vendo a expressão surpresa da loira. 

- Mas que coincidência, atiraram a flecha bem aqui também... – sorria, colocando a mão de Michiru sob a sua, junto ao peito. A bela violinista ouvia atentamente, ruborizando pela sutil confissão, antes de render-se ao beijo da loira. Seu amor, que ela julgava impossível, se tornara real. Ainda de olhos fechados, Neptune abraçava-a, absorta o suficiente para não assimilar a pergunta da parceira.

- O que...disse? – indagava, agora fitando Uranus.

- No que pensava? – ria.

- A-ah...em tantas coisas...

- Vamos Michiru, divida comigo... – fitando-a com malícia, Uranus sorria.

- Ara...devia saber que eu não raciocino direito perto de você... e dos seus lábios então... – dito isso, Neptune conseguira desarmar Haruka, que agora cobria as bochechas. Sabia que estava vermelha. – Ora, acabei de descobrir seu ponto fraco?

- Eu disse que não era tão difícil, não disse? – ria, recuperando-se – Tinha perguntado se não teria problema voltar tarde para casa. Por mim ficaria aqui a noite toda, mas.... Como filha única dos Kaioh, me espanto como deixaram a senhorita sair com uma pessoa de fama horrível como a minha...

- Hum...digamos que a impressão que você causa supera qualquer fama – sorria – Ahh... – abraçava-a o mais forte que conseguia – Eu não vou conseguir ficar longe de você...

- Está decidido, vamos morar na praia. – logo piscava para a Sailor, que ria. – Agora mudando um pouco de assunto, sobre a viagem, você vai poder mesmo? Porque seus pais...bom, a viagem é comigo...eles podem não concordar...

- Hum...eu ainda acho que não teremos problemas com isso... quero dizer, eles não vão saber uma parte disso – ri.

- Bom, mas é complicado se você não contar a seus pais...eu não quero causar atritos com sua família...quer dizer, vocês têm um nome à zelar e...

- Pare com essa ênfase no "eu". Não há nada errado nisso...e ah, não há porque contar nada ainda... Não me julgue pelo nome da minha família, Haruka...

- Gomen Michiru...é que realmente não quero causar problemas...

- Mas você não vai! – sorria – É só uma viagem, afinal... eles não vão ter o que dizer sobre nada. Veja, daqui a um tempo, contarei aos meus pais...só não vamos apressar as coisas...

- Entendo...bom, mas me preocupo com um pequeno detalhe dessa viagem...

- Detalhe? Que detalhe?

- Preciso te avisar que...

- Que o quê? – olhava-a apreensiva.

- É um perigo ter você perto de mim, princesa... – ria – Já é um perigo nós duas sozinhas nessa praia...

- Princesa? – cora.

- Te...incomoda?

- Não...é só que... – ria.

- P-por que ri? – olhava-a confusa.

- Estou rindo de... de nós... Ah, eu não faço sentido mesmo, esqueça – sorri. 

Neptune referia-se a situação em si. Nunca imaginou, depois dos encontros amargos com a loira, que se divertiria assim. Agradecia internamente por não ter se enganado sobre quem amava. Uranus arqueava uma sobrancelha em confusão. 

- Me diga uma coisa Michiru, como estão os ferimentos? Ficaram marcas?

- Ah, já sumiram praticamente, graças a você... – sorri – É...são coisas com as quais nós teremos que conviver agora, com essa missão...

- Tem razão... Aquela criatura que você matou no autódromo, eu nunca tinha visto nada igual...e aquele espelho seu, o que ele mostra?

- Mostra quando algo ruim se aproxima...ele mostra os inimigos, mas nem sempre nitidamente...

- Entendo...foi por isso que foi no autódromo de repente naquele dia?

- T-também... – Neptune baixava a cabeça um tanto envergonhada. A loira sorria. Entendera que fora naquela tarde para protegê-la também.

- Está ficando tarde...vamos para o carro?

- Sim, sim... – levantava-se, mas, antes de se virar e ir para o automóvel, olha mais uma vez no horizonte. Seu semblante era terno e a jovem mais alta notara. Entrelaçando seus dedos com os dela, a pianista sorria. Parecia agradecer ao companheiro, que passeava suavemente, ora pelo tecido fino de sua blusa, ora pelos cabelos ondulados de sua parceira.

- Assim eu vou ficar enciumada... – deixava escapar, quase num sussurro.

- Hum? Ciúmes de quem? – via a companheira colocar a mão na boca, tossindo, tentando disfarçar.

- N-Nada, só pensei alto...

- Ara... – sorria, antes de beijá-la novamente. 

- Droga, mesmo sentando em cima dos sapatos, minha calça está cheia de areia...

- Meu vestido não saiu intacto também.

- Ora...e por que não o tirou? – entrava no carro, olhando-a de soslaio, disfarçava um sorriso.

- Eu e minha boca ... – corava, entrando no veículo também.

- É...você e sua boca...

- Deixar-me vermelha virou hábito agora? – ri.

- Eu diria que é mais um...hobby – piscava para a garota, que tornava a sorrir – Sabe Michiru...nunca foi tão prazeroso dirigir...

- Agora você me surpreendeu...Hum...sabe no que eu pensei? Eu acho que vou ter um colapso em Mônaco – ria – Você já "voa baixo" com esse seu carro...nas pistas então...

- Não se preocupe...eu terei cuidado...porque agora tenho pra quem voltar e comemorar...

O comentário provocara rubor nas bochechas de Neptune, que sorria enquanto fechava os olhos, saboreando o vento em sua face. Aos poucos o cheiro de maresia e o som das águas cessavam e davam lugar ao barulhento trânsito de Tóquio. 

[...]
- Infelizmente...chegamos Michiru...está entregue. Confira se alguma parte do corpo está faltando... – ri.

- Ara, se estiver, eu saberei com quem procurar... – aproximava-se, beijando a bochecha da loira.

- Está bem, eu não ia falar, leva teu coração de volta...mas devolva o meu primeiro – brincava.

- Oh, ok...

- Você disse que queria "passear de carro à beira do mar" hoje pode ser considerado uma realização do seu pedido? – Michiru a olhava surpresa. A loira tinha realmente lembrado do que dissera no iate.

- Não "pode ser considerado" apenas... É. – sorria para a outra jovem, que ouvindo as palavras da Neptune, não pôde conter um discreto sorriso.
 
(continua)

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