sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capítulo 7 – Mugen (parte 1)

A manhã do dia seguinte chegara quente, sem brisa, nem folhas se mexendo. Mas havia alguém que andava em companhia do vento, ou da representante do mesmo. Kaioh Michiru tinha fisgado quase em um ato egoísta toda brisa daquele dia, Tenoh Haruka estava com ela naquela manhã. 

O fato, é que a menção de "naquela manhã" é falha. As duas, desde que se uniram tendo a praia, o mar e a lua como testemunhas não se separaram...ou quase: muitos beijos, mãos-bobas e conversas e cada uma ia para sua respectiva residência, lamentando cada minuto separadas.

Às seis da manhã, Haruka esperava Michiru na esquina de uma rua, trajeto que se tornou rotineiro e a companhia sempre prazerosa. Porém o destino não era tão agradável assim: Colégio Mugen. Não há esforço para a mente dos que conheciam a conceituada escola imaginar que lá, a disciplina fazia parte da grade de qualquer colegial, querendo ou não. Depois de uma caminhada de minutos, as duas chegam até o local, para enfrentar mais um dia, uma maratona de intermináveis discursos de professores; conversas insossas de diretores sobre os seus respectivos pais, olhares hostis dos inspetores e contato com outros alunos, que as garotas, por escolha ou por um infeliz acaso privavam-se. Porém, a queixa deste último não existia mais, agora elas tinham uma à outra, mesmo que em carteiras separadas...

- Oe Michiru...que aula teremos agora? – perguntava baixinho sentando uma carteira adjacente à da violinista.

- Ara Haruka, onde está seu horário?

- Eu saí correndo de casa pra não me atrasar...gomen ne? – ria sem jeito.

A conversa é momentaneamente cessada, ao notarem a presença do sensei. Era um senhor – em seus cinqüenta e dois anos – sisudo, cabelos grisalhos, terno cinza e gravata preta. 

A mesma cor insípida que usava há anos, quando se tornou mestre. Portava uma régua e um livro de 464 páginas, que poderia explicar o porquê de ele andar meio corcunda.

- Argh! Física? Só será útil quando ele abordar a questão de velocidade – dizia a loira, quase bocejando. 

- Você já sabe tudo sobre motores, responde antes do professor... – riu Michiru.

- E na aula de artes, você já entra com o braço levantado engraçadinha! – a corredora retrucava, não se dando conta do tom de voz.

“Tenoh!” – diz o professor visivelmente irritado – “Gosta de aparecer, não é? Por que não vem até o quadro fazer a primeira questão?” – ao ouvir, Michiru virava-se, de sobressalto.

- Ah... G-gomen professor, Haruka só estava me... me explicando sobre... uma... lição... – tentava amenizar a violinista.

“Explicando? Não foi isso que vi. Portanto, se ele está tão bem-humorado, senhorita Kaioh, virá fazer essa questão com a mesma alegria, não é Tenoh?”

- Hai... – dizia Haruka, aproximando-se morosamente do quadro.

- "Pelo menos ela vai acertar e vai calar a boca dele...” – pensava Neptune.

Nesse ínterim, algumas meninas aproveitando a distração do professor – que acompanhava o desenvolvimento da questão – sussurram algo sobre Haruka, indagando umas às outras quem teria coragem de falar com “ele” no intervalo, apostando um lanche, em quem ousaria chamá-lo para sair. Até que uma, toca o ombro de Michiru...

Kaioh-san?”

- Sim? – virava-se, estranhando a pessoa que a chamara.

“É que, eu e minhas amigas, apostamos em quem conseguiria falar com Tenoh-kun no intervalo, você pode me dar uma dica em como devo falar? De que tipo de garota Tenoh-kun gosta? Notei que você é...próxima...dele...” – o tom que falara transbordava sarcasmo, o qual foi percebido pela violinista. Risinhos incômodos das outras meninas chegam ao ouvido de Michiru.

- "Vou te contar de que tipo de garota ela gosta... e não é do seu! Mantenha a calma Michiru, mantenha a calma..." Se quiser falar com Haruka, é melhor ser você mesma, não acha? – tentava parecer o mais simpática possível – "Porque assim você percebe logo que não tem chance...” – pensava, tentando conter seu incômodo perante a situação.

“Hum, entendi...mas sabemos que é próxima dele, Tenoh-kun deve ter comentado com você sobre as meninas que ele ficou... Ou seja, ele tem um tipo, só queremos saber qual.” – a garota sussurrava antes de rir baixo – “Afinal, vocês chegam ao Mugen juntos todos os dias...” – dessa vez ela olha para as outras meninas, que, atrás dela também riam.

- "Sim, chegamos juntas e provavelmente iremos embora também. Será que a sala toda cuida tanto assim da vida dela? Cuide da sua própria vida, desocupada! Argh...chega, chega Michiru... controle-se e principalmente tente não usar um ‘Deep Submerge’ nessa... coisa. Ai, mas que tipo de conta interminável é essa Haruka? Quer fazer o favor de voltar para o seu lugar logo?" Sim, chegamos, mas nós não...falamos sobre isso... “E nem queira saber sobre o que falamos...”

“Ah sim, mas você não saberia dizer se ele tem namorad...” – a garota é interrompida pela presença do próprio objeto da conversa. Haruka chega e com uma expressão emburrada, senta silenciosamente, esperando o professor analisar sua resposta.
“Depois eu falo...Kaioh-san.” – dizia a menina, seguido de uma risada baixa.

- Hai... "Não fale. Porque eu não me responsabilizo pela minha resposta!" – suspira – O que foi? – fitava a loira.

- Aquele inseto ficou dizendo em cada número que eu colocava estava errado, só porque fui por um caminho menos complicado do que ele ensina... Oe, o que essa menina queria?
- "Queria saber sobre a sua vida... Aliás, se me permite sobre a nossa vida... Não, Michiru, você não vai começar com isso no meio da aula... principalmente depois de ter sido chamada a atenção pelo professor..." Ah, n-nada demais...

“Tenoh!” – vociferava o professor novamente, tendo ajuda de sua régua, que batia no quadro.

- Kami-sama... – dizia a velocista em voz baixa.

- “Lá vamos nós...” – pensou Michiru.

“Sua questão...está correta.” – o homem dizia um tanto quanto desapontado, não achou que a velocista resolvesse tão facilmente a questão. 

- “Esse suspense todo pra dizer isso? Mas que filho da...” – Haruka balançava a cabeça negativamente enquanto pensava.

- “Sensei, você devia me pagar por ter a feito ir até a lousa, só pra dar brecha pra essas parasitas aqui ao lado.” – resmungava Michiru.

“Bom, continuemos a aula. Espero que sem mais interrupções. No próximo exemplo vamos imaginar dois pilotos em uma corrida de Fórmula 1. Na última volta a distância entre eles é de 80 metros e ambos os carros estão na mesma velocidade...então, o carro de trás...”

Haruka se empolgara momentaneamente com a questão, mas logo perdera o interesse, pela tediosa voz do professor Uchida, e seus hipnóticos movimentos ao escrever as fórmulas do que explanava. Ali, naquela sala, Ela tentava combater um mal muito maior: o sono. Sua cabeça começara a pender e sua mente desligar-se desse mundo. Beliscando discretamente uma bochecha, forçava-se a acordar...

- “O que vou fazer agora? Essa aula está um saco... Michiru é bem mais interessante.” – pensava com um sorriso levado – “O que posso fazer pra matar o tempo?”

Tirando cuidadosamente um pedaço de papel do caderno, a velocista rabiscava algumas palavras. De vez em quando, olhava para o quadro fingindo realmente prestar atenção no sensei.

- “Nossa... como ela está concentrada... o que será que houve?” – espiava rapidamente sua parceira, na carteira do lado esquerdo.

Tenoh-kun, pode me emprestar a borracha?” – perguntava a jovem atrás de Haruka, a mesma menina com quem Michiru tinha falado educadamente e pensado não tão carinhosamente assim.

- Ah, pode usar a minha – sorria Neptune, entregando uma borracha a ela e fingindo não notar o olhar irritado da garota.

- Oe... Mas tem uma borracha debaixo do seu caderno... – dizia a loira meio confusa. Parecia não ter notado o breve jogo da garota.

Constrangida, a jovem olhava para a borracha com desconsolo, não era afiada para cometer seppuku

“Ah...obrigada...”

- "Argh... concentre-se na sua conta Michiru... e tente ignorar o ser parasita ao seu lado..." – a violinista resmungava, estava ficando impossível de controlar seu ciúme.

“Mas que conversa é essa aí atrás? Você de novo no meio Tenoh? Não pode esperar o intervalo para importunar as meninas?” – reclamava o professor.

- M-mas eu...gomen. “Professorzinho filho-da...”
 
- "Ara, essa coisa fica inventando motivos para falar com a ‘Ruka e sobra pra nós ainda? Ai... quanto tempo tem essa aula afinal?"

“Tenoh-kun, pode me ajudar a resolver essa questão?”

Chamava-se Rumiko e tinha a mesma idade das Sailors, dezesseis. Sua personalidade ousada tornara-a um exemplo para algumas meninas da classe. Sempre achou a corredora atraente, talvez ainda mais quando percebeu que agora ela tinha companhia. Achava interessante começar uma disputa com alguém do nível de Michiru.

Neptune entendera muito bem o que Rumiko estava fazendo. Contudo, não deixaria transparecer. Sabia que se o fizesse, cairia na armadilha da estudante. Deixaria que Uranus a ensinasse, por hora. Entretanto, se isso continuasse talvez não mantivesse a compostura. Não seria má idéia afogar uma ou duas meninas na água salgada de seu Maremoto.

Tocando o tão aguardado sinal, Haruka levantou-se, guardando o bilhete no bolso, depois terminaria, afinal tinha mais uma aula pela frente. Assim que se dirigiu à porta, as mesmas garotas com quem Michiru falara, acompanharam Uranus com o olhar, enviando ondas malignas à companheira que admiravam.

(continua)
 

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