Capítulo 25 – Quebra-cabeça. (parte 1)
- Não pode ser... – disse Neptune olhando
para o Aqua Mirror. – Deveria estar
aqui, eu ainda sinto a presença. Está fraca, mas sinto.
A algumas quadras do Mugen, Uranus e Neptune investigavam
uma ruela deserta. Parecendo mais um beco, ela exiba vários cubículos de
madeira um ao lado do outro. Por sorte, ali só funcionavam pequenos bares, que
só abriam à noite.
- Isso é muito estranho. – falou Uranus
aproximando-se por trás da parceira, dando uma olhada no espelho dela. – O Aqua Mirror deu pra pegar peças agora? Está
na hora de trocar a pilha dele, Neptune.
Por mais que Haruka soubesse o quanto Michiru
se aborrecia ao ouvir piadinhas sobre seu espelho, às vezes ela simplesmente
não podia evitar provocá-la. Aos olhos da corredora, o beicinho que a
violinista se esforçava em esconder só a deixava mais fofa.
- O Aqua
Mirror não é um brinquedo de lojinha para crianças, Uranus. Além disso, ele
nunca falhou antes. – respondeu a outra friamente, sem tirar os olhos do objeto.
– É como se a criatura estivesse nesse local, mas ainda não tivesse...despertado.
- Como se esperasse um hospedeiro?
- Exato. Deve estar em uma forma que ainda
não conseguimos identificar.
- Mas o que podemos fazer? Não dá pra ficar
aqui o dia todo. Sem contar que estamos em plena luz do dia vestidas...desse
jeito. – comentou a loira puxando a borda da saia.
- Você tem razão. Voltaremos à noite, então.
- Que droga, hein? – resmungou Haruka
cruzando os braços. – Como se eu não tivesse mais nada pra fazer nesse horário.
- A culpa não é minha se o demônio não pode
ser agendado em seus compromissos. – Neptune retrucou seriamente, mas Uranus
riu alto, achando graça do comentário.
Neptune vasculhou a área por uma última vez
antes de voltar à sua forma habitual. Uranus a imitou e logo as duas estavam
correndo de volta ao beco onde deixaram as pastas.
[...]
Takeo abriu a porta de casa com impaciência.
Mal parando de andar para tirar os sapatos, quase caiu no processo. Não
querendo ser visto pela mãe, o garoto pulou o costumeiro “Tadaima!” e adiantou-se para o seu quarto. Quando chegou no meio do
corredor, uma figura pequena saltou do banheiro com um grito.
- Mas que susto, Ryuji! – exclamou Takeo
largando as pastas no chão. O coração prestes a fazer um bungee jumping involuntário e saltar pela boca. As risadas do irmão
só fizeram o susto se dissipar e dar lugar a uma crescente irritação.
Ryuji tinha sete anos e adorava o irmão mais
velho. Frequentemente, ele inventava jeitos novos de assustar Takeo. Com um
nível de paciência incomum para uma criança, ele era capaz de se esconder em
qualquer cômodo por vários minutos e só sair quando avistasse o irmão. Se o
plano envolvia a cozinha, o susto quase sempre resultava no lanche de Takeo
esparramado no chão. E uma bela bronca, em seguida.
- Okaeri!
– o menino cumprimentou animadamente e Takeo apenas balançou a cabeça em
desaprovação, ainda irritado pelo susto. Enquanto se abaixava para pegar as
pastas, ouviu o menino perguntar:
- Por que você tem duas pastas, nii-chan?
- Essa aqui é de uma amiga do colégio que
acabou esquecendo de levar. Achei melhor trazer pra casa e devolver amanhã. É
mais seguro. – respondeu o rapaz, optando por uma meia verdade. – Onde está
mamãe?
- Na casa de Koyama-san.
Takeo suspirou profundamente. Quando a mãe
estava na casa da vizinha, nem tão cedo voltava. O assunto entre as duas
parecia ser infindável.
A ausência de sua mãe também significava ter
de lidar com um pequeno, mas persistente problema: seu irmão menor.
Resolvendo ignorar o menino, o rapaz
atravessou o corredor e Ryuji o seguiu, muitíssimo interessado em saber o que o
irmão iria fazer. Notando os passinhos atrás de si, Takeo virou-se e fitou o garotinho.
- Por que está me seguindo, Ryuji?
- Ontem você prometeu que quando chegasse em
casa, ia passar aquela fase de Super
Mario World pra mim! – explicou o menino com tom aborrecido.
Ishikawa fechou os olhos por uns segundos, lembrando-se
da tal promessa. Devia ter mais cuidado ao fazê-las a uma criança. Elas sempre cobram
por elas.
- Escuta, Ryuji... – falou o rapaz
calmamente, passando uma das mãos pelos cabelos do menino. – Agora eu não
posso... – Ishikawa viu o desapontamento do irmão e logo tratou de acrescentar
– Mas, se quiser, faço agora aquele sanduíche que tanto gosta. Certo?
O garotinho calou-se e considerou a proposta
por um momento. Takeo segurou a risada. Aparentemente, era uma decisão difícil
para ele.
- Certo. – respondeu Ryuji.
Deixando as pastas encostadas na parede do
corredor, Takeo se dirigiu até a cozinha com o menino em sua cola. Previu
aborrecimentos caso não fizesse a vontade do irmão naquele momento. Afinal,
queria paz enquanto estivesse vasculhando a pasta de Michiru.
[...]
- N-Nós...fomos roubadas? – Michiru perguntou
mais para si mesma do que para Haruka. O tom era de incredulidade.
As duas haviam chegado ao beco e vasculhado o
contêiner à procura das pastas. A violinista ainda estava agachada, passando a
mão por trás do objeto.
- Obrigado, humanidade. – disse a corredora
em tom irônico olhando para o céu . – Acabamos de arriscar nossos traseiros pra
te salvar e é assim que retribui?
- Você não parece muito preocupada com as
nossas coisas, Haruka... – Michiru franziu o cenho, irritada.
- É claro que eu estou. – respondeu a outra
cruzando os braços. – Por outro lado, e se uma pessoa decente viu nossas pastas
e simplesmente devolveu ao Mugen?
Michiru colocou uma das mãos no queixo e
ponderou, antes de falar:
- É, pode ser. Afinal as pastas possuem o
emblema do colégio. Mas ainda fico muito desconfortável ao pensar que alguém
pode estar com nossas coisas e não tem a intenção de devolver...
(continua)