segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Capítulo 8 - Concerto Particular

“Pontualidade. Mulheres adoram isso. Palavras não muito agradáveis, tapas, ações... sugeridas – ‘Vá pro infer...’ – fizeram-me crer que sim, pontualidade é um item de suma importância em um relacionamento.” 

“São oito horas da noite e infelizmente estou atrasada mais de quarenta minutos...e ela não vai me perdoar...pelo menos não nessa vida; talvez na próxima. Dirigindo-me à montanha que protegia o portão da casa, mais conhecido por segurança, perguntei se a pessoa que eu esperava estava e se poderia falar com ela. O sujeito tinha o corpo do boneco do Rambo e expressão tão amigável quanto um Dobermann ao ver um intruso, mas isso não me intimidaria, a pessoa que vinha em minha direção sim. Michiru meu bem, foi um prazer conhecê-la...”

- Está atrasada, Tenoh... – disse entrando no carro.

- Chances de perdão...? 

- Quase nulas... – cruzou os braços.

- E se eu te disser que quase atropelei um cidadão japonês e tive que averiguar seu estado?

- Quê?!

- Ok, era um Akita-Inu...mas a lei ia me detonar do mesmo jeito!

- Você tem noção que isso não está ajudando muito, né?

- Sua expressão dá uma pequena dica disso... – Uranus pendia a cabeça.

Três sinais vermelhos, uma calçada com o batente raspado e cinco apitos da polícia depois, chegam ao apartamento de Haruka. A acompanhante dela, pacientemente ajeita cada fio de cabelo que tinha voado, enquanto cogitava trocar de poderes, para encarnar a “Sailor dos Vôos Mortais”, se é que algo assim existia.

- Michiru...eu estava pensando... – dizia com um meio sorriso nos lábios, enquanto abria a porta do apartamento – O cinto de segurança é realmente muito útil...

- Diz isso porque ultrapassou o limite de velocidade há séculos? – suspirou Neptune, entrando no local.

- Não...digamos que ele impede que eu pule em alguém enquanto dirijo...

Michiru sorriu discretamente. A velocista sabia como maquiar descaramento com charme. 

- Não que eu não goste da idéia... mas na velocidade em que você estava, não é lá muito indicado... 

- A minha demora, deve-se ao fato de que procurava o que fazer no jantar... 

- Ara, nunca me disse que gostava de cozinhar... – dizia um tanto surpresa.

- “Gostar” não é bem a palavra... mas eu cozinho sim... Não quero me gabar, mas, ninguém ferve a água como eu.

- É uma habilidade maravilhosa, pena que seres humanos não podem viver só de água fervida.

- A minha habilidade culinária restringe-se a comida de microondas. Ok, também sei fazer ramen – dizia com frustração – Você verá a quantidade de pacotes que coleciono no armário...

- Gomen... não precisa ficar tão irritada...

- Não estou irritada, só insatisfeita de não saber cozinhar algo comestível – ria – E eu lhe aviso que se um "ser" escapar da panela de arroz, tem uma colher de pau no armário esquerdo...

- Oh, muito obrigada pelo alerta. Então para evitar a proliferação de "seres", me lembre de cozinhar da próxima vez... – sorria, ajudando a velocista a levar os pacotes para a cozinha.

- Jura que faria isso pra mim? Mas como sou eu a anfitriã...não poderia deixar que você tivesse trabalho algum. Por isso me esforcei e comprei algumas coisas na loja de conveniência... – mostrava constrangida as bandejas de comida congelada.

- Que bom, pelo menos assim poderemos comer. – Michiru riu, apontando uma das bandejas – Mas não pense que você vai escapar, eu ainda vou cozinhar pra você qualquer dia.

- Eu...não quero morrer.

- Haruka! – soltava as compras, para dar um tapa leve no braço da loira – Saiba que o cozinheiro lá de casa me passou muitas dicas. Portanto, vou cozinhar sim.

- Tentador... – sorria com malícia – Mas hoje...quero te ver tocando – aproximava-se da garota acariciando os cabelos.

- H-Hai... – ruboriza.

- Ah! Que péssima anfitriã eu sou...sente-se. Vou preparar nosso jantar. Leia-se, tirar a comida dos pacotes. Fique à vontade...

- Obrigada. Ah, onde eu poderia deixar a caixa do violino, Haruka?

- Hum...qualquer lugar, pode ser na mesa que fica perto da varanda.

A jovem se levanta, indo até o outro lado do apartamento. Passa por alguns cômodos, e deixa a caixa onde lhe fora indicado. Na volta, olha de relance para um dos cômodos... “Mas... o que...?” – surpreendia-se a violinista.

- Pronto, agora é só esperar esquentar a comida e...Michiru?

“Mas se ela mora sozinha aqui... então só pode...” – pensou a violinista.

Saindo do ambiente, volta à sala, onde Haruka estava. Chegando com uma expressão totalmente indignada, encara a velocista.

- Algum problema? – rapidamente, Haruka pensa em tudo que poderia ter dito no caminho, algo que justificasse tal expressão.

- Eu não acredito no que você fez, Haruka – estava séria, muito séria.

- Me diga o que fiz...seja lá o que for eu... posso explicar. Olha, se eu disse alguma coisa q...

- E eu que... confiava em você...Você pode me explicar o motivo de haver...

- De... haver o quê?!

- Um piano nesse apartamento?! – Neptune ria da expressão da loira, que confusa, levou alguns segundos até que se desse conta da encenação.

- Como assim não me contou que sabia tocar piano?

- E-eu...mas é que...é que quando...foi porque...não sabia que...Argh! – Haruka cruzava os braços e sentava no sofá – Gomen, é que faz algum tempo que não toco, andava sem motivação... – a corredora para e olha a violinista por alguns segundos – Quer dizer, até você entrar em minha vida. – sorriu.

- Então você nunca mais terá desculpa para não tocar... – Michiru sorria em toda a sua sentimentalidade, à menção da última frase.

Haruka sorriu antes de apontar um lugar no sofá para a garota.

- Eu estou bem enferrujada... 

- Bom, podemos tocar juntas... Qualquer dia...

- Apesar de não garantir uma qualidade na “apresentação”, eu aceito formar um dueto com você. Oh, mas como você trouxe o violino nós podíamos...Ah, eu acho que a comida ficou pronta. – levantava-se, indo em direção a cozinha.

- Hã...sim, sim. Depois nós...vemos isso. Quer ajuda?

- Não se incomode Michiru, eu vou preparar nossos pratos e já volto. Enquanto isso escolha uma música, quero te ouvir depois que comermos.

- H-hai... 

- “Hum...estranho...ela não me parece muito empolgada pra tocar...o que será que houve?” – pensava enquanto distribuía os pratos na mesa e acrescentava os hashis. – Princesa, hora de comer a "fabulosa comida de loja de conveniência" – ria, apontando.

- Bom, eu não ouvi barulho de pancadas, então, devo deduzir que pelo menos não surgiram "seres" desta comida... Ou seja, já é um bom começo...

- Sim – ria – E se não estiver bom, culpe a Marca e não a cozinheira, ok?

Enquanto jantavam, a loira observava discretamente sua parceira, que comia sem muita pressa. Entretanto, em meio aquela tranqüilidade aparente, Uranus notara certo desconforto por parte de Neptune. Tomando coragem entre uma garfada e outra, comenta:

- Michiru, você me parece meio...

- Pareço o quê?

- Desanimada pra tocar. Escute, eu não quero te forçar a nada. No Mugen eu pensei que seria uma boa idéia te ver tocando...mas não se sinta obrigada... – colocava uma mão por cima da de Neptune, procurando tranqüilizá-la.

- Tocar não seria problema algum...

- Então me diz o que seria... – deixava a mão de Michiru, indo agora em direção ao rosto, acariciando-o. A violinista suspirava, e de olhos fechados sorria, antes de falar.

- A questão é que, quando me fez o convite, eu fiz os meus próprios... planos... – sorria, fitando-a.

- E por que não compartilha comigo tais "planos"? – perguntava sorrindo, porém um tanto confusa ainda – Eu estou neles?

- Mais do que você imagina... – ria – Eu...não trouxe o violino...

- Então...o que há na caixa?

- Roupa. – corava.

Surpresa, a corredora pára as carícias. Tentava assimilar o que ouvira. Sem dúvida, durante a relação com a violinista, ela havia cogitado essa possibilidade.

Seu desejo era comprovado pelas insinuações que fazia. Às vezes inconsciente, inclusive. Quando consciente, algumas vezes calara-se por medo de transmitir uma impressão que pudesse afastar a garota. Certamente, a velocista a desejava, suas atitudes delatavam-na quase diariamente. O bilhete que mandara no Mugen comprovava isso. Obviamente, os dizeres foram escritos com duplo sentido propositalmente, mas a velocista não pensou realmente que Michiru iria levar a sério, há algum tempo acostumara-se às brincadeiras da parceira. 

O ponto em questão é que Haruka não saberia o “quanto” estava sendo correspondida, em se tratando desse assunto pela Sailor dos Mares. “Talvez, ela se sinta obrigada...quer dizer, depois do que quase houve em Mônaco...” – pensava com breve desconsolo. Enquanto refletia, um silêncio faz-se presente. Decidida então, a aceitar os planos da garota, ela finalmente levanta e senta ao lado de Neptune, olhando-a ternamente. Amava-a tanto. Por sua vez, Michiru começava agora a pensar se não teria feito mal. Afinal talvez estivesse apressando as coisas. Fato que a fez corar instantaneamente. No entanto, estava disposta a concretizar seu plano. Com a única certeza de que amava Haruka.

- Você é injusta Michiru... – beija a palma da mão dela, e sorria ao notar o momentâneo rubor da jovem – Como fica nosso dueto? – ri.

- Temos um mais interessante agora...

Olhando-a ainda, Haruka beija-lhe mais uma vez a palma da mão, e logo em seguida aproxima-se mais um pouco, onde se perde com o perfume que a pele da jovem Neptune exala. Antes de beijá-la porém, sussurrava perto de seu ouvido: “Seus planos não poderiam ser mais perfeitos...” 

Ao ser guiada por Uranus, Michiru não pensava em nada, em mais nada a não ser em seu amor. E na certeza que tinha naquele momento; de que nada nem ninguém jamais as impediria. A certeza de que nunca se arrependeria, dado a pureza de seu amor...
Puxando delicadamente a violinista pela cintura, abraça-a fortemente. Abrindo os olhos aos poucos, vê a imagem da jovem. Ruborizada. Tão perfeita. Tão...pura. Não queria macular a visão que tivera, mas estava ansiosa demais para mostrar o quanto a amava. Beijando-lhe uma das mãos, a faz seguir o caminho dos seus aposentos.

[...]

“Eu a tive. Kaioh Michiru... Eu a tenho. Eu até arriscaria a dizer que não é real, se ela não estivesse se aninhando no meu corpo... ainda tão quente.”

Poucas palavras foram trocadas depois que entraram no quarto. Especialmente por Uranus, que parecia mais tímida do que realmente era. Talvez ainda estivesse surpresa pela iniciativa de Neptune. Ficara aliviada sabendo que nada forçara. Sentia como se tivesse colocado a última peça em um quebra-cabeça. Era estranho, pensava. Os sorrisos haviam mudado; o toque, os beijos e até o tom das palavras.

- Tem um corpo lindo... – a loira dizia com um sorriso. Estava deitada de lado com uma das mãos apoiando o queixo, parecia deixar escapar um pensamento. Michiru ficara vermelha, cobria-se e desviava o olhar. Sabia que Uranus falava sinceramente.

- Q-que tipo de comentário tão... de repente é esse, ‘Ruka? – corava.

- Não queria te deixar sem graça. Foi apenas um comentário... do que acho. – sorria.

- Baka... – ria – Acho que só quer ganhar mais beijos.

- Eu não ia reclamar caso acontecesse...

A madrugada chegara e nenhuma das duas estava realmente cogitando dormir. O cansaço ficara fora do quarto. Duas voltas na chave para que ele não entrasse.

- Sempre consegue realizar seus planos senhorita Kaioh? – ria enquanto beijava-lhe o ombro – Caí direitinho...não que tenha resistido... – passava a mão pelos cabelos da jovem.

- Mesmo que tentasse, eu não desisto tão fácil... Mas se arrepende de algo, Tenoh? – provoca-a.

- Só de não tê-la nos meus braços mais cedo... – sorria.

- Nada que nós não possamos... recuperar...


(continua)

2 comentários:

  1. É maravilhoso saber que continuará a fic!
    E sim! Eu esperei!
    Reli os capítulos e adorei as aprimorações!
    Boa Sorte e beijos,
    Cih Amorim

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  2. É maravilhoso também saber que estão apreciando essa fic, Cih!
    Eu achei que alguns capítulos faltavam informações, por isso decidi refazê-los.

    Obrigada por acompanhar a história!

    Bjo ;)

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