sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capítulo 7 – Mugen (parte 2)

 Capítulo 7 – Mugen (parte 2)

Frondosas árvores providenciavam um clima agradável; os vinte minutos de intervalo eram bem aproveitados por Haruka e Michiru, que sentadas em banco de madeira, lanchavam e conversavam, sob os olhares curiosos de alguns estudantes.

- Hum... estranho aquela garota ficar pedindo coisas que já tem emprestadas, não? – dizia Neptune se fazendo de desentendida.

- Acho que ela estava tão entediada quanto eu, por isso nem notou...

- "Ah, notou... tenha certeza que notou sim..." É, deve ser... – suspira.

- Oe...não são aquelas meninas da sala de novo? – dizia discretamente, enquanto terminava de lanchar.

- Hã? – olha para a garota que se aproximava – "Ah não... não mesmo. São! O pior é que são... Desocupadas!" – pensava.

- Vieram pedir matéria pra você, aposto...será que notariam se desviássemos o olhar e saíssemos daqui?

- "Elas notariam absolutamente tudo o que você fizesse, minha cara... Infelizmente! E antes viessem mesmo me pedir a matéria... mas elas querem "pedir" outra coisa!" Tarde demais...

“Tenoh-kunn!” – gritava Rumiko, com uma voz que se assemelhava a uma cornetinha desafinada de carnaval.

“Queremos falar com você!” – completava outra.
- É que nós já estávamos de saída e... – falava Haruka, já se levantando.

- "Obrigada por ignorar a minha presença, Rumiko... você não faz idéia de como eu queria conseguir ignorar a sua também". – pensava Michiru.

“É rápido!” – grita outra.

- Ah, pode dizer... – respondeu a loira.

“Era...particular...” – olhavam em sincronia para Michiru.

- "Mas que ousadia é essa?! Ara Haruka, faça o favor de responder antes que eu mesma o faça..." – pensava tentando manter o controle.

- Gomen...eu... – não dando chances, Rumiko se apressa e pergunta: 

 “Você está livre depois da aula?”

- C-como? – surpreendia-se a loira.

- "Agora você passou dos limites, infeliz.”  Na verdade... Haruka irá a um concerto comigo depois da aula... "Ótimo... agora elas vão perguntar mais ainda, mas era só o que me faltava mesmo! E essa foi a primeira coisa que me ocorreu..." – Neptune realmente esperava que notassem a intimidade que tinha com Uranus, chamando-lhe pelo primeiro nome. Indubitavelmente, isso não passou despercebido pelo grupinho.

- A-ah, é...a Michiru já tinha me chamado...gomen...

“Mas e depois do ensai...”

- Ah, o sinal... hora de voltar... – a loira esboçava um sorriso, ainda que sem graça.

A expressão das garotas era um misto de ódio e frustração, dando-lhes as costas, saem amaldiçoando mentalmente a companhia de Haruka. Ao longe comentavam:

“Aquela violinistazinha cortou completamente minha chance.”

“E ouviram como chamou Tenoh-kun pelo primeiro nome?”

“A reação dela foi puro ciúme...”

Rumiko-chan nos deve um lanche!”

“Ora, calem a boca...”
Michiru pegava seu material no banco e, caminhando em direção à sala, tentava esconder sua raiva, principalmente o motivo dela.

- "Kami-sama... o sinal só demora quando eu preciso que ele toque... é incrível".

- Michiru, onde será o concerto? Espero que seja lá em casa... – ria, percebendo que tudo fora só um desculpa da violinista, por puro e indubitável ciúme. 

- Ara, você demorou demais para responder... Ou é por que queria sair com ela, Tenoh?

- É claro que não, princesa... Pensei que elas vinham pedir a matéria. Isso porque enquanto eu fazia a questão no quadro, dei uma espiada e você estava conversando com uma das meninas... Mas é bom saber que esse rubor é por ciúmes...queria te beijar agora, está tão linda assim... – ria, enquanto se aproximava da classe.

- "Argh... nem ficar com raiva de você eu consigo por mais de... um segundo." – cora – A-arigatou... – dizia enquanto entrava na sala – Ah, pelo menos a aula é de artes agora – riu.

- A vingança é uma coisa muito feia, Michiru... – sentava-se, posicionando o cavalete perto do dela.

- Ara... quem falou em vingança? – ria – Pelo menos não podem te mandar fazer contas no quadro agora...

- É, mas contas eu sei fazer, já desenhar... – Uranus pegava com má vontade um dos lápis. Nunca soube diferenciar muito bem a característica deles. Esboço, sombreamento, reforço de traço eram palavras dispensáveis, seus desenhos sempre pareciam borrões.

“A aula de hoje é com carvão pessoal, vamos trabalhar luz e sombra.” – dizia a professora de artes. Trinta e três anos de pura impaciência. “Cuidado com o excesso de pó que ficar na folha, pode borrar todo o trabalho. Por isso, soprem a folha, frequentemente. Não esqueçam do limpa-tipos, do lado esquerdo de vocês, ele serve para apagar eventuais manchas. Aqui temos uma escultura, servirá para treinarmos as sombras. Comecem.”

Haruka baixava a cabeça e suspirava. Se já não controlava bem suas linhas com lápis normais, o que dizer do carvão?

- Ora, não reclame... é tão simples – sorria Michiru, começando o desenho.

- Michiru, você pinta telas de dois metros, por favor...– irritada, a loira acabou limpando o nariz com um dos dedos, sujo de carvão.

- Ah, Haruka... mas eu acho que você deveria pintar o papel e não o seu rosto...
“Tenoh... o que pensa estar fazendo com o carvão? Kaioh-san, mostre-a como se faz...” – falava a professora notando a mancha preta no nariz da aluna.

- Hai... – sorri – Olha o que dá se fazer de engraçadinha no meio da aula – falava baixo, fingindo estar explicando sobre a técnica de desenho.

- Mas eu não sujei meu nariz de propósito!

“Silêncio! Vamos começar traçando as principais linhas...” – continuava a explicar para seus alunos, que a essa altura, riam.

A loira rabisca. Apaga. Rabisca. Quebra um pedaço do carvão. Amaldiçoa. Acaba lembrando que seu rosto ainda estava sujo e discretamente o limpa com uma das toalhinhas perto do cavalete.

- Está tudo bem aí? – olhava-a, tentando não rir. 

- O que acha? Eu transformei a mulher da escultura em um Orc. Mas que monstruosidade, eu pensei que os monstros só aparecessem quando enfrentássemos o mal...

- Isso e quando você desenha – ri – Ara... só um minuto – terminando o seu desenho, aproxima-se mais da corredora – Acha que a professora se importa se eu te ajudar?

- Acha que eu me importo se ela se importa? – resmunga.

“Hã-hã Kaioh...nada de ajudar...” – repreendia a professora.

- Definitivamente, hoje não é o meu dia... – suspirou a corredora.

- Gomen ne... – voltando para o seu cavalete – “Mas eu não tenho mais nada o que desenhar aqui” – Neptune pegava outra folha e começava outro desenho, para se distrair.

Terminando de maneira...um tanto quanto assustadora o desenho, a velocista levanta-se para lavar as mãos, em uma pia na própria sala de artes. Voltando ao seu lugar, termina de escrever o bilhete, que tinha começado na aula de Física. Recordando brevemente de técnicas ninjas, que aprendera nos filmes que vira, entrega discretamente o pedaço de papel à Michiru.
"O que acha de um concerto particular na minha casa depois da aula?” – eram os dizeres do bilhete, seguida por uma carinha de gato desenhada e “dedos” em forma de “V”. Neptune corava ao abrir o bilhete. Afirmando com a cabeça, sorria enquanto dobrava o pedaço de papel.

“Ei ei...o que é isso em suas mãos Kaioh? Deixe-me ver...” – aproxima-se a professora, para desespero das duas.

- Ah, era só o meu... rascunho... – dizia a violinista, guardando o papel na bolsa – E eu terminei o meu desenho...

“E por que seu rascunho estava com Tenoh?”

- “Que mulher maldita! Ela viu! Pense rápido Haruka!” – nenhum plano ou desculpa vinha na mente da velocista. Suando, fitava Michiru, igualmente aflita. 

“Vamos...deixe-me ver...”

- E-estava com ela porque eu m-mostrava o contraste de sombra e luz... mas está mais visível no original, então... "Ara Haruka... diga alguma coisa!”

- Michiru...pode mostrar a ela... – sorria, para total espanto da parceira.

- "Era pra ajudar e não para terminar de estragar tudo!... só pode ter ficado louca de vez..." Ah, não, não, eu... eu não gostei daquele desenho então...

- Mostre Michiru, pra ela ver que não tem nada demais...afinal estamos atrasando a aula...
“Exatamente, Tenoh... Vamos senhorita Kaioh.”

- "Kami-sama... e agora?" H-hai... – entregando o papel, baixava a cabeça, imaginando o que viria.

Veloz como o vento, Haruka puxa o papel das mãos de Michiru, e engole. Ali, no meio da classe. Cinco segundos para mastigar e mais cinco para engolir. Poderia fazer até mais rápido, mas ganhara um desconto por não ter água perto. Se bem que, considerando sua atitude insana, água não seria problema, pois a Sailor dos Mares, preparava mentalmente um Maremoto.

“Tenoh!! O que você fez?! É o bastante, fora!”

Com um meio sorriso e ainda tossindo um pouco, levantava-se vitoriosa, ou pelo menos assim se sentia. Michiru, ainda sem acreditar no que tinha visto, indagava mentalmente – "Esse era o seu plano brilhante?! Arghh!" – enquanto a sala era preenchida por risadas dos colegas.

“Insolente! Está suspensa da próxima aula, Tenoh.” – tossia, recompondo-se – “Bom, vamos ver como ficaram os trabalhos...”

- “Grande... realmente você se supera, Haruka...” – Ah, Hai... – pegando o trabalho solicitado, acidentalmente derruba um outro desenho, onde se via uma praia ao anoitecer – "Ótimo, ela detesta que desenhem algo que não o que ela manda, era só o que faltava”.

“Mitsune, falta sombra na parte interna do braço, conserte. Seiji, sua anatomia ainda tem muito que melhorar, esse pé que você fez está em uma escala errada. Kaioh, hum...bom trabalho com as sombras...vejo que fez o esboço antes, muito bem...mas tente não usar muitos os dedos para esfumaçar, suas digitais estão aparecendo na ponta da folha. No mais está ót...que desenho é esse?”

- É... é só...

“Sim?” – olhando-a.

- É só um desenho que eu fiz porque... porque já tinha terminado o outro e... – a mulher subitamente virava o rosto, atentando as vozes no corredor.

Tenoh-kunnn! O que faz fora da classe? Você não tem aula?” – questionavam algumas meninas que passavam pelo corredor, onde a velocista se encontrava.

“Mas...que conversa é essa?” – virava-se a professora em direção à porta.

- "Kami-sama... nem fora da classe ela para de chamar atenção?" – pensava Neptune.

No corredor, a loira cruzava os braços, fazendo-se de vítima.

- Sim, mas a professora me botou pra fora... 

“Como ousam colocar nosso Tenoh-kun pra fora...?” – dizia uma das meninas, pegando Haruka pelo braço.

- É...mas fazer o que? Vocês não me defenderam... – piscava.

A conversa toda ecoava pela sala de aula...enquanto a Sailor dos Mares quebrava discretamente um pedaço do bastão de carvão.

“Mas nem lá fora ela se cala?” – indagava a professora.

- "Não... ela nunca se cala... E não vai recolher logo os desenhos pra eu poder sair daqui? Espero que tenha esquecido do meu outro desenho...”

“Bom, a aula terminou. Minha paciência idem. Vejo vocês na próxima semana...” – dizia, recolhendo os desenhos.

Pegando sua pasta, Michiru esperava os alunos saírem da classe, indo logo atrás. Olhando para o lado, vira a parceira encostada na parede, com as mãos nos bolsos e expressão totalmente despreocupada.

- Você tem noção de que a classe toda estava ouvindo? Inclusive eu?

- Ééé?

- É! – cruzava os braços.

- Espere, mas eu não falei nada que... – descruzando os braços, inúmeros bilhetinhos caíam das meninas com as quais falara. Arqueando uma sobrancelha, Neptune olha os bilhetes ao chão. Vira-se e sai andando.

- Oe! Michiru! Espere por mim! – juntando os bilhetes, jogava no lixo mais próximo – Ei, ei...eu joguei, eu joguei...

- Então quer dizer “que elas não te defenderam”, não é?

- “Paredes finas...maldição.” Bom, eu só estava brincando...não fique assim princesa, por favor... E Além disso, eu fiz o favor de engolir o bilhete, por nós... – ria.

- Ah, obrigada por me lembrar...que eu devia te matar por isso! Ficou louca de vez? Eu ia... ia dar algum jeito...

- Que jeito? Ela ia te obrigar a dar o bilhete, se você não desse, ia te expulsar...eu prefiro ter meu arquivo acadêmico manchado, do que o seu... E se ela te expulsasse eu ia logo atrás, porque iria improvisar uma obra surrealista, metendo o cavalete naquilo que ela chama de cara. No final eu só adiantei as coisas. – dizia com um sorriso despreocupado.

- Mesmo assim... você quase me mata de susto... – Michiru esboçava um sorriso.

- Ah, Michiru...eu sempre tenho tudo sob controle – gabava-se.

- Isso era sob controle? Então eu devo esperar o pior pra quando você perder o tal controle?

- Ué, depende da situação... – ria com malícia – O que me faz lembrar...os dizeres do bilhete...você ainda confirma? 

- Hum, depois do que você disse àquelas garotas eu já não sei... – voltava a andar, se fingindo de ofendida, mas Haruka estava preocupada demais para notar o joguete. 

- M-mas... 

- Ara...não prometi nada...

- Mas e aquele gesto na sala... eu pensei que... Ou...você se arrependeu? – Michiru ia tentar dizer um "não", mas começou a rir antes. A gargalhar na verdade.

- O que foi?

- Você... – rindo – Ficou... tão... preocupada... que...

- Hunf! Talvez devêssemos deixar o concerto para outro dia – virava o rosto.

- Ara, tentar o meu próprio jogo não funciona – sorri.

- Você pode ir mesmo hoje até minha casa? – suspirava.

- Posso...

- Que horas então? – sorria.

- Bom... suponho que eu tenha que ir em casa, pegar meu violino para o tal "concerto", não é? – voltando a rir.

- Não quer que te pegue?

- Ah... se não for incômodo – sorri.

- Você sabe que não, Michiru... – ia se aproximar para beijá-la mas viu que ainda estava no portão do colégio Mugen e contém-se.

- H-hai...até breve então...

- Eu mal posso esperar... – a loira piscava, antes de sair correndo e acenar.

- Nem eu... – dizia Neptune pensativa. O sorriso denunciara que havia traçado os próprios planos.


(continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário