terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Capítulo 9 – Complicações estudantis

Capítulo 9 – Complicações estudantis.

“Sei que estava tão nervosa quanto eu. Mas vou deixá-la negar, fingirei que aquele sorriso malicioso quando tirou minha blusa, não era pra esconder tua timidez. Eu estava tremendo. Você, tão costumeiramente afoita tratou de se controlar e me abraçou. Eu, sem pressa, tratei de tornar o ato mais íntimo e te beijei. E agora, você também tremia. Eu vibrei, era mais um lado seu que eu descobria.
E isso, é absolutamente delicioso.

Disse-me palavras desconexas. Não doces, mas indecentes; que se encaixaram com perfeição, como seu corpo no meu. Agradeci aos deuses por estarmos na quase na cobertura, minha voz estava difícil de controlar. Já a sua, rouca e impaciente, mostrou-se melhor do que qualquer partitura na qual toquei.
Eu a ouviria pra sempre.

Sua boca experimentou novamente a minha e eu jurei que não sairia daquele quarto tão cedo. Esqueci das horas, dos meus pais, das missões e quase do meu nome. Porque eu sorria cada vez que você dizia que me queria. Boba. Você me mostrava, palavras foram desnecessárias.
Não que eu desgoste...

Quando me provou, deixei que me levasse pra bem longe desse planeta. E só me buscasse quando eu já não pudesse respirar. Seu corpo não é tão pesado quanto parece, sabia? Eu me entreguei completamente e fiquei feliz quando de olhos bem fechados você fez o mesmo, ainda com as bochechas vermelhas.
Tão linda.
Tão minha.

Tenho que te pintar qualquer dia... você deixa, não deixa? Porque sei agora qual argumento é eficaz, ‘Ruka...”

[...]

O sol tentava de todas as formas entrar no quarto. Sua persistência ajudara-o encontrar uma brecha entre as cortinas. Escapando do inoportuno invasor, Michiru vira-se, procurando refúgio no corpo da velocista. Ajeita-se e volta a dormir.

Lençóis desalinhados. Um dos travesseiros, no chão. Justificável; tinham dezesseis e energia invejável. Um barulho ininterrupto força a loira abrir um dos olhos. O ruído ganha volume à medida que se espreguiçava na cama, aproveitando para abraçar aquela com quem passara a noite. Beijava-lhe os ombros. O som novamente. Congela. Era o despertador...

- Kami-sama! O colégio, Michiru! – saltava da cama, procurando desesperadamente qualquer peça de roupa.

- Mas que... o quê? – acordava lentamente, reconhecendo o barulho – Ah sim, é só o despertador...

- Temos que levantar, princesa,  ou chegaremos atrasadas!

Falava enquanto contorcia-se, vestia a camisa, e ficava em uma perna só para colocar sua calça. Como não possuía nenhuma formação circense, tropeçou, caindo violentamente no chão.

- H-Haruka! – vira-se com o baque da queda da jovem. Ia perguntar se ela estava bem, quando nota que se levantara sem o cobertor, o que a faz corar – V-Você está bem?

- Vou sobreviver... – dizia, com um meio sorriso, terminando de se trocar.

- Por que se troca? É sábado... Eu só tenho uma aula hoje.

- Quê?! Por que não me avisou? – sentava-se, um tanto irritada.

- Não tenho cara de calendário – ria – E, além disso, eu pensei que sabia... – beijava-a, enquanto removia despreocupadamente a gravata de Uranus.

- Você me fez esquecer... – sorria – Quando vai tocar pra mim Michiru? – removia as últimas peças de roupa, jogando-as na poltrona do lado direito da cama.

- A pergunta é quando você vai tocar pra mim...ou pensa que eu esqueci?

- Michiru... – suspira – É que eu não costumo tocar na frente dos outros...

- Não costuma tocar porque estragaria a imagem de "um piloto de corridas" ou toca tão mal assim? – ainda sorria, provocando-a.

Orgulhosa, a loira se senta rapidamente, deixando o cobertor cair. Esquecendo que estava desprovida de qualquer tecido. Não que sua parceira se importasse...

- Claro que não! Bom, não sou profissional mas... Eu toco melhor do que qlaquer moleque da orquestra do Mugen! – Neptune ria, da irritação e do esquecimento da Sailor. A visão do corpo da outra estava agradável demais.

- Ótimo, eu quero só ver então. Vai tocar comigo... – sorri.

- É claro! Você vai ver que... – Haruka cala-se, perante sua estupidez. E repara em tudo. Na falta de vestimentas e na falta de controle por deixar-se levar pela provocação de Michiru.

- Vou ver sim... – rindo – Ok acho que a convenci, não? – via a jovem corar, encolhendo-se na cama.

- Por que será que prevejo mais momentos constrangedores como esse para mim?

- Ara... não me diga que me vê como a causa deles... Afinal eu não fiz nada, ‘Ruka. 

- Sei... olha... – apontava para o relógio na mesa de cabeceira – Ainda temos duas horas antes da sua aula...o que podemos fazer de proveitoso? 

- Bom, meu violino ainda não está aqui... – ria, aconchegando-se.

Abrindo um sorriso, Uranus puxa a violinista de volta aos seus braços. Não antes de empurrar o relógio dentro da gaveta. 

Faltando vinte minutos para a aula, preparavam-se para sair do apartamento. A grande dúvida era como tinham encontrado vontade de sair dele. Talvez vontade não seja a palavra mais adequada, mas de qualquer forma, tinham obrigações a cumprir. Na verdade, Haruka estava com o dia livre, sua parceira não. Seu talento fora notado pela professora de artes, que a convidara para ser monitora das aulas, realizadas ao sábado também. Eram alunos bem mais novos, contudo Michiru aceitou com prazer o desafio. Não estimava muito a sensei – conseqüência de eventos passados – todavia a arte era irresistível. Já na porta do apartamento, era observada por Haruka que se aproximava de fininho abraçando-a pela cintura: “Significou muito, muito mesmo ter confiado em mim ontem...”.

- Mas eu sempre confiei em você, ‘Ruka. E a noite de ontem não poderia ter sido melhor. – abraçava-a. Em silêncio, a loira retribui, escondendo a cabeça no ombro da garota. Tentava disfarçar o rubor.

- Ao Mugen? – sorria, dessa vez fitando Neptune. 

- O Mugen!! Ara, você me distrai demais, sabia? – ri.

- Mas isso é bom... certo? – piscava.

[...]

- Michiru, te espero na biblioteca, tudo bem? Vou inventar algo para passar o tempo. – dizia deixando-a na porta da sala de artes, ainda vazia. 

- Contanto que não tenha a ver com as garotas do colégio... – virava o rosto, provocando-a.

- C-Claro que não!

"Boa tarde Kaioh-san!” – dizia um dos alunos antes de entrar.

- Ah, boa tarde – sorri – Até mais tarde, Haruka... – ria, entrando na sala.

- Até... – suspirava frustrada, enfiando as mãos nos bolsos, enquanto se dirigia à biblioteca. Olhando de soslaio, notara os largos sorrisos do jovenzinho, que ajudava Neptune com os materiais.

Enquanto caminhava, um dos membros do clube de literatura nota a presença da velocista. Apressava-se. Chegando perto, agarra um dos braços da loira, que a olha assustada, mas logo se dá conta que era só uma aluna e sorri. Cabelos um pouco acima dos ombros, magra, altura média... Era uma garota até bonita.

"Tenoh-kun! Onde está indo?” – perguntava empolgada. Ouvindo o destino de Haruka, a garota indaga se poderia ir também; ouvindo uma afirmação um pouco gaguejante, segue com ela.

- Oe...você não tem aula agora... – esperava o nome da menina.

"Ogawa Makie!” – diz a menina, animadamente. "Faltam alguns minutos ainda para o clube se reunir, mas vim organizar a sala” – completava.

Por costume, Haruka até perguntaria que clube seria, se gostava e há quanto tempo estava. Depois emendaria um sorriso e faria algum elogio manjado. Mas não dessa vez. Não queria ser rude com a menina, mas pouco importava se Makie fazia parte do clube do Raio que o Parta. Encontrando uma mesa vaga nos fundos da biblioteca, a loira pensou em dormir, e o faria, se a insistente garota não estivesse sentada ao seu lado...

"Tenoh-kun...parece cansado, o que foi...?"

- Hum...não foi nada... – sorria meio sonolenta – É que dormi pouco... “E quero não continuar dormindo pelas mesmas razões...” – pensava, deixando escapar um sorriso malicioso.

Para Makie, o momento não poderia ser mais oportuno. Sua “Paixão” estava a centímetros. Teria que se declarar, ali, na biblioteca. Há cinco meses tinha se apaixonado pela loira; em um sábado assistindo televisão, vira “o piloto” japonês ganhar mais uma vez. Câmeras deram close quando a corredora tirara o capacete. Quase derrubara os bolinhos de arroz no tapete da sala. Não demorou muito para que enchesse seu quarto de revistas adolescentes e pôsteres.

De fato, adquirira mais um no dia anterior. A fita dupla-face que comprara ainda estava em sua mochila. Tinha um lugar reservado numa das paredes do quarto.

E agora, ali, naquela biblioteca tomava coragem para colocar em palavras seus sentimentos, tentava acariciar os cabelos de Uranus, mas perdera a audácia quando esta vira o rosto, enrubescido por pensamentos sobre a noite anterior com Michiru.

"Tenoh-kun? Está bem?"

- H-hai...Makie-chan...

"Você...bom, eu queria te convidar para..." – inspirava, tentando acalmar-se. Mas Haruka mal podia ouvir a menina, imersa em lembranças com a Sailor dos Mares.

- Hã? O que disse?

“N-não, é que... não foi nada. Bom, mas o que faz aqui? Hoje é sábado... você veio treinar ou...”

- Ah não, eu só estou acompanhando uma pessoa...

“Um...amigo?”

- Uma amiga.

“Ah... Sabe, eu vi sua corrida em Mônaco, foi um resultado muito bom.”

- Obrigado. Mas da próxima vez tenho que me esforçar mais...

“Deve ser difícil viajar tanto, quer dizer, cansativo...”

- Bom, há vantagens também... – sorria.

“Eu imagino... Tenoh-kun, eu queria te falar que...”

Algum tempo depois, a violinista já na biblioteca procurava sua parceira, quando ouve um burburinho. Uma estante a separava de Haruka e Makie. Em silêncio, detém-se, a fim de ouvir o que a garota desejava.

"Bom, eu queria... Sair com você.” – diz de uma vez, acariciando os cabelos de Uranus, que a olhava um pouco surpresa. Já Michiru, estava em dúvida se entrava ou não. Acabou não controlando a vontade de ouvir a resposta de Haruka...

Makie encarava a loira, realmente decidida a só deixar o lugar quando obtivesse uma resposta. Não conseguira se declarar, é verdade. Contudo, sair com quem gostava já era algo. – “Então...?” – indagava novamente. 

Sorrindo, pegando a mesma mão que lhe acariciava os cabelos, Haruka respondia: “Gomen princesa. Mas creio que...eu seria uma péssima companhia... Meus pensamentos estariam em outro lugar...aliás, seria mais correto dizer que...alguém estaria neles.” – soltava a mão da garota, que se controlava, não querendo demonstrar algumas lágrimas que insistentemente caíam.

- Hey... não chore... “Droga! Não queria magoá-la! E agora?”

Michiru, ainda quieta, não pôde conter um sorriso mudo ao ouvir a resposta de Uranus. No entanto, também não sabia o que fazer. Se entrasse naquele momento, só iria piorar a situação da garota. Resolveu esperar que ela saísse. A menina levanta-se procurando não encarar Haruka, que a esse ponto estava confusa sobre que atitude tomar. Pedia perdão mais uma vez? Resolvera calar-se enquanto via a jovem recolher alguns livros em cima da mesa. Parecia chorar ainda. Saindo apressada do local, esbarra em Michiru...

- A-ah, gomen ne, eu... – a violinista parava ao perceber que a menina chorava.

“É você...não é?” – Makie olhava-a com raiva, mas as lágrimas ainda insistiam em cair. Os nomes Kaioh e Tenoh comumente apareciam nas revistas que comprava. E o jornal do colégio tratava de ligá-los, especulando sobre que tipo de relação teriam. Makie simplesmente se recusava a acreditar.

- "Droga...o que faço?" Eu... – tentava formular uma resposta e enquanto isso, Haruka escutando a voz da violinista, levantava-se.

"Responda...” – dizia seriamente Makie – "Pelo menos isso...Kaioh."

- Se você quer tanto saber, eu... – olhava para Haruka, como perguntando se estava tomando a atitude certa.

- Eu...suponho que ela não precise lhe contar nada, Makie-san – interrompia.

A garota encara Michiru por um instante; tentando nesse ínfimo espaço de tempo analisá-la. 

“Nem precisa. Já obtive minha resposta.”

E antes que pudesse pronunciar mais alguma coisa, a garota corre, despertando a atenção dos poucos estudantes que se encontravam no local.

- Oe... antes que me mate, eu não estava fazendo nada com essa garota e...

- Eu não sei se a convenci e... Ara, tudo isso é consciência pesada? – sorri – Na verdade, eu estava aqui há um tempinho e... bom, eu ouvi o que você disse a ela... A-arigatou – cora levemente – Mesmo assim fiquei surpresa com a reação dela... Não me surpreenderia se espalhasse o que houve aqui.

- Não acho que vá fazer isso. Foi uma situação desagradável pra ela... não comentaria. Mas me diga, estava me espionando? Que coisa feia... – sorria, acariciando-lhe o rosto – Não tem que me agradecer por nada, eu estava até me perguntando se tinha sido dura com ela, mas o jeito que ela começou a te olhar...me fez esquecer qualquer piedade...

- Estava te procurando na verdade... mas quando cheguei, não quis atrapalhar a conversa – ri – E... não ligo para o que ela pensar de mim... Aliás, tem idéia de como foi difícil não dizer nada depois do que ouvi? Ou não te beijar? Mas eu não podia... causar problemas... – Neptune sorria, aproximando-se.

- Por um beijo seu? Dane-se o Mugen, princesa... – ria – Oe, sua aula acabou, não? Aonde quer ir? Passear? Lutar contra o mal? Comer? Lutar contra o mal?

Michiriu riu.

- A companhia é infinitamente mais importante do que o lugar...

- De onde tira tantas respostas legais?
(continua)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Capítulo 8 - Concerto Particular

“Pontualidade. Mulheres adoram isso. Palavras não muito agradáveis, tapas, ações... sugeridas – ‘Vá pro infer...’ – fizeram-me crer que sim, pontualidade é um item de suma importância em um relacionamento.” 

“São oito horas da noite e infelizmente estou atrasada mais de quarenta minutos...e ela não vai me perdoar...pelo menos não nessa vida; talvez na próxima. Dirigindo-me à montanha que protegia o portão da casa, mais conhecido por segurança, perguntei se a pessoa que eu esperava estava e se poderia falar com ela. O sujeito tinha o corpo do boneco do Rambo e expressão tão amigável quanto um Dobermann ao ver um intruso, mas isso não me intimidaria, a pessoa que vinha em minha direção sim. Michiru meu bem, foi um prazer conhecê-la...”

- Está atrasada, Tenoh... – disse entrando no carro.

- Chances de perdão...? 

- Quase nulas... – cruzou os braços.

- E se eu te disser que quase atropelei um cidadão japonês e tive que averiguar seu estado?

- Quê?!

- Ok, era um Akita-Inu...mas a lei ia me detonar do mesmo jeito!

- Você tem noção que isso não está ajudando muito, né?

- Sua expressão dá uma pequena dica disso... – Uranus pendia a cabeça.

Três sinais vermelhos, uma calçada com o batente raspado e cinco apitos da polícia depois, chegam ao apartamento de Haruka. A acompanhante dela, pacientemente ajeita cada fio de cabelo que tinha voado, enquanto cogitava trocar de poderes, para encarnar a “Sailor dos Vôos Mortais”, se é que algo assim existia.

- Michiru...eu estava pensando... – dizia com um meio sorriso nos lábios, enquanto abria a porta do apartamento – O cinto de segurança é realmente muito útil...

- Diz isso porque ultrapassou o limite de velocidade há séculos? – suspirou Neptune, entrando no local.

- Não...digamos que ele impede que eu pule em alguém enquanto dirijo...

Michiru sorriu discretamente. A velocista sabia como maquiar descaramento com charme. 

- Não que eu não goste da idéia... mas na velocidade em que você estava, não é lá muito indicado... 

- A minha demora, deve-se ao fato de que procurava o que fazer no jantar... 

- Ara, nunca me disse que gostava de cozinhar... – dizia um tanto surpresa.

- “Gostar” não é bem a palavra... mas eu cozinho sim... Não quero me gabar, mas, ninguém ferve a água como eu.

- É uma habilidade maravilhosa, pena que seres humanos não podem viver só de água fervida.

- A minha habilidade culinária restringe-se a comida de microondas. Ok, também sei fazer ramen – dizia com frustração – Você verá a quantidade de pacotes que coleciono no armário...

- Gomen... não precisa ficar tão irritada...

- Não estou irritada, só insatisfeita de não saber cozinhar algo comestível – ria – E eu lhe aviso que se um "ser" escapar da panela de arroz, tem uma colher de pau no armário esquerdo...

- Oh, muito obrigada pelo alerta. Então para evitar a proliferação de "seres", me lembre de cozinhar da próxima vez... – sorria, ajudando a velocista a levar os pacotes para a cozinha.

- Jura que faria isso pra mim? Mas como sou eu a anfitriã...não poderia deixar que você tivesse trabalho algum. Por isso me esforcei e comprei algumas coisas na loja de conveniência... – mostrava constrangida as bandejas de comida congelada.

- Que bom, pelo menos assim poderemos comer. – Michiru riu, apontando uma das bandejas – Mas não pense que você vai escapar, eu ainda vou cozinhar pra você qualquer dia.

- Eu...não quero morrer.

- Haruka! – soltava as compras, para dar um tapa leve no braço da loira – Saiba que o cozinheiro lá de casa me passou muitas dicas. Portanto, vou cozinhar sim.

- Tentador... – sorria com malícia – Mas hoje...quero te ver tocando – aproximava-se da garota acariciando os cabelos.

- H-Hai... – ruboriza.

- Ah! Que péssima anfitriã eu sou...sente-se. Vou preparar nosso jantar. Leia-se, tirar a comida dos pacotes. Fique à vontade...

- Obrigada. Ah, onde eu poderia deixar a caixa do violino, Haruka?

- Hum...qualquer lugar, pode ser na mesa que fica perto da varanda.

A jovem se levanta, indo até o outro lado do apartamento. Passa por alguns cômodos, e deixa a caixa onde lhe fora indicado. Na volta, olha de relance para um dos cômodos... “Mas... o que...?” – surpreendia-se a violinista.

- Pronto, agora é só esperar esquentar a comida e...Michiru?

“Mas se ela mora sozinha aqui... então só pode...” – pensou a violinista.

Saindo do ambiente, volta à sala, onde Haruka estava. Chegando com uma expressão totalmente indignada, encara a velocista.

- Algum problema? – rapidamente, Haruka pensa em tudo que poderia ter dito no caminho, algo que justificasse tal expressão.

- Eu não acredito no que você fez, Haruka – estava séria, muito séria.

- Me diga o que fiz...seja lá o que for eu... posso explicar. Olha, se eu disse alguma coisa q...

- E eu que... confiava em você...Você pode me explicar o motivo de haver...

- De... haver o quê?!

- Um piano nesse apartamento?! – Neptune ria da expressão da loira, que confusa, levou alguns segundos até que se desse conta da encenação.

- Como assim não me contou que sabia tocar piano?

- E-eu...mas é que...é que quando...foi porque...não sabia que...Argh! – Haruka cruzava os braços e sentava no sofá – Gomen, é que faz algum tempo que não toco, andava sem motivação... – a corredora para e olha a violinista por alguns segundos – Quer dizer, até você entrar em minha vida. – sorriu.

- Então você nunca mais terá desculpa para não tocar... – Michiru sorria em toda a sua sentimentalidade, à menção da última frase.

Haruka sorriu antes de apontar um lugar no sofá para a garota.

- Eu estou bem enferrujada... 

- Bom, podemos tocar juntas... Qualquer dia...

- Apesar de não garantir uma qualidade na “apresentação”, eu aceito formar um dueto com você. Oh, mas como você trouxe o violino nós podíamos...Ah, eu acho que a comida ficou pronta. – levantava-se, indo em direção a cozinha.

- Hã...sim, sim. Depois nós...vemos isso. Quer ajuda?

- Não se incomode Michiru, eu vou preparar nossos pratos e já volto. Enquanto isso escolha uma música, quero te ouvir depois que comermos.

- H-hai... 

- “Hum...estranho...ela não me parece muito empolgada pra tocar...o que será que houve?” – pensava enquanto distribuía os pratos na mesa e acrescentava os hashis. – Princesa, hora de comer a "fabulosa comida de loja de conveniência" – ria, apontando.

- Bom, eu não ouvi barulho de pancadas, então, devo deduzir que pelo menos não surgiram "seres" desta comida... Ou seja, já é um bom começo...

- Sim – ria – E se não estiver bom, culpe a Marca e não a cozinheira, ok?

Enquanto jantavam, a loira observava discretamente sua parceira, que comia sem muita pressa. Entretanto, em meio aquela tranqüilidade aparente, Uranus notara certo desconforto por parte de Neptune. Tomando coragem entre uma garfada e outra, comenta:

- Michiru, você me parece meio...

- Pareço o quê?

- Desanimada pra tocar. Escute, eu não quero te forçar a nada. No Mugen eu pensei que seria uma boa idéia te ver tocando...mas não se sinta obrigada... – colocava uma mão por cima da de Neptune, procurando tranqüilizá-la.

- Tocar não seria problema algum...

- Então me diz o que seria... – deixava a mão de Michiru, indo agora em direção ao rosto, acariciando-o. A violinista suspirava, e de olhos fechados sorria, antes de falar.

- A questão é que, quando me fez o convite, eu fiz os meus próprios... planos... – sorria, fitando-a.

- E por que não compartilha comigo tais "planos"? – perguntava sorrindo, porém um tanto confusa ainda – Eu estou neles?

- Mais do que você imagina... – ria – Eu...não trouxe o violino...

- Então...o que há na caixa?

- Roupa. – corava.

Surpresa, a corredora pára as carícias. Tentava assimilar o que ouvira. Sem dúvida, durante a relação com a violinista, ela havia cogitado essa possibilidade.

Seu desejo era comprovado pelas insinuações que fazia. Às vezes inconsciente, inclusive. Quando consciente, algumas vezes calara-se por medo de transmitir uma impressão que pudesse afastar a garota. Certamente, a velocista a desejava, suas atitudes delatavam-na quase diariamente. O bilhete que mandara no Mugen comprovava isso. Obviamente, os dizeres foram escritos com duplo sentido propositalmente, mas a velocista não pensou realmente que Michiru iria levar a sério, há algum tempo acostumara-se às brincadeiras da parceira. 

O ponto em questão é que Haruka não saberia o “quanto” estava sendo correspondida, em se tratando desse assunto pela Sailor dos Mares. “Talvez, ela se sinta obrigada...quer dizer, depois do que quase houve em Mônaco...” – pensava com breve desconsolo. Enquanto refletia, um silêncio faz-se presente. Decidida então, a aceitar os planos da garota, ela finalmente levanta e senta ao lado de Neptune, olhando-a ternamente. Amava-a tanto. Por sua vez, Michiru começava agora a pensar se não teria feito mal. Afinal talvez estivesse apressando as coisas. Fato que a fez corar instantaneamente. No entanto, estava disposta a concretizar seu plano. Com a única certeza de que amava Haruka.

- Você é injusta Michiru... – beija a palma da mão dela, e sorria ao notar o momentâneo rubor da jovem – Como fica nosso dueto? – ri.

- Temos um mais interessante agora...

Olhando-a ainda, Haruka beija-lhe mais uma vez a palma da mão, e logo em seguida aproxima-se mais um pouco, onde se perde com o perfume que a pele da jovem Neptune exala. Antes de beijá-la porém, sussurrava perto de seu ouvido: “Seus planos não poderiam ser mais perfeitos...” 

Ao ser guiada por Uranus, Michiru não pensava em nada, em mais nada a não ser em seu amor. E na certeza que tinha naquele momento; de que nada nem ninguém jamais as impediria. A certeza de que nunca se arrependeria, dado a pureza de seu amor...
Puxando delicadamente a violinista pela cintura, abraça-a fortemente. Abrindo os olhos aos poucos, vê a imagem da jovem. Ruborizada. Tão perfeita. Tão...pura. Não queria macular a visão que tivera, mas estava ansiosa demais para mostrar o quanto a amava. Beijando-lhe uma das mãos, a faz seguir o caminho dos seus aposentos.

[...]

“Eu a tive. Kaioh Michiru... Eu a tenho. Eu até arriscaria a dizer que não é real, se ela não estivesse se aninhando no meu corpo... ainda tão quente.”

Poucas palavras foram trocadas depois que entraram no quarto. Especialmente por Uranus, que parecia mais tímida do que realmente era. Talvez ainda estivesse surpresa pela iniciativa de Neptune. Ficara aliviada sabendo que nada forçara. Sentia como se tivesse colocado a última peça em um quebra-cabeça. Era estranho, pensava. Os sorrisos haviam mudado; o toque, os beijos e até o tom das palavras.

- Tem um corpo lindo... – a loira dizia com um sorriso. Estava deitada de lado com uma das mãos apoiando o queixo, parecia deixar escapar um pensamento. Michiru ficara vermelha, cobria-se e desviava o olhar. Sabia que Uranus falava sinceramente.

- Q-que tipo de comentário tão... de repente é esse, ‘Ruka? – corava.

- Não queria te deixar sem graça. Foi apenas um comentário... do que acho. – sorria.

- Baka... – ria – Acho que só quer ganhar mais beijos.

- Eu não ia reclamar caso acontecesse...

A madrugada chegara e nenhuma das duas estava realmente cogitando dormir. O cansaço ficara fora do quarto. Duas voltas na chave para que ele não entrasse.

- Sempre consegue realizar seus planos senhorita Kaioh? – ria enquanto beijava-lhe o ombro – Caí direitinho...não que tenha resistido... – passava a mão pelos cabelos da jovem.

- Mesmo que tentasse, eu não desisto tão fácil... Mas se arrepende de algo, Tenoh? – provoca-a.

- Só de não tê-la nos meus braços mais cedo... – sorria.

- Nada que nós não possamos... recuperar...


(continua)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capítulo 7 – Mugen (parte 2)

 Capítulo 7 – Mugen (parte 2)

Frondosas árvores providenciavam um clima agradável; os vinte minutos de intervalo eram bem aproveitados por Haruka e Michiru, que sentadas em banco de madeira, lanchavam e conversavam, sob os olhares curiosos de alguns estudantes.

- Hum... estranho aquela garota ficar pedindo coisas que já tem emprestadas, não? – dizia Neptune se fazendo de desentendida.

- Acho que ela estava tão entediada quanto eu, por isso nem notou...

- "Ah, notou... tenha certeza que notou sim..." É, deve ser... – suspira.

- Oe...não são aquelas meninas da sala de novo? – dizia discretamente, enquanto terminava de lanchar.

- Hã? – olha para a garota que se aproximava – "Ah não... não mesmo. São! O pior é que são... Desocupadas!" – pensava.

- Vieram pedir matéria pra você, aposto...será que notariam se desviássemos o olhar e saíssemos daqui?

- "Elas notariam absolutamente tudo o que você fizesse, minha cara... Infelizmente! E antes viessem mesmo me pedir a matéria... mas elas querem "pedir" outra coisa!" Tarde demais...

“Tenoh-kunn!” – gritava Rumiko, com uma voz que se assemelhava a uma cornetinha desafinada de carnaval.

“Queremos falar com você!” – completava outra.
- É que nós já estávamos de saída e... – falava Haruka, já se levantando.

- "Obrigada por ignorar a minha presença, Rumiko... você não faz idéia de como eu queria conseguir ignorar a sua também". – pensava Michiru.

“É rápido!” – grita outra.

- Ah, pode dizer... – respondeu a loira.

“Era...particular...” – olhavam em sincronia para Michiru.

- "Mas que ousadia é essa?! Ara Haruka, faça o favor de responder antes que eu mesma o faça..." – pensava tentando manter o controle.

- Gomen...eu... – não dando chances, Rumiko se apressa e pergunta: 

 “Você está livre depois da aula?”

- C-como? – surpreendia-se a loira.

- "Agora você passou dos limites, infeliz.”  Na verdade... Haruka irá a um concerto comigo depois da aula... "Ótimo... agora elas vão perguntar mais ainda, mas era só o que me faltava mesmo! E essa foi a primeira coisa que me ocorreu..." – Neptune realmente esperava que notassem a intimidade que tinha com Uranus, chamando-lhe pelo primeiro nome. Indubitavelmente, isso não passou despercebido pelo grupinho.

- A-ah, é...a Michiru já tinha me chamado...gomen...

“Mas e depois do ensai...”

- Ah, o sinal... hora de voltar... – a loira esboçava um sorriso, ainda que sem graça.

A expressão das garotas era um misto de ódio e frustração, dando-lhes as costas, saem amaldiçoando mentalmente a companhia de Haruka. Ao longe comentavam:

“Aquela violinistazinha cortou completamente minha chance.”

“E ouviram como chamou Tenoh-kun pelo primeiro nome?”

“A reação dela foi puro ciúme...”

Rumiko-chan nos deve um lanche!”

“Ora, calem a boca...”
Michiru pegava seu material no banco e, caminhando em direção à sala, tentava esconder sua raiva, principalmente o motivo dela.

- "Kami-sama... o sinal só demora quando eu preciso que ele toque... é incrível".

- Michiru, onde será o concerto? Espero que seja lá em casa... – ria, percebendo que tudo fora só um desculpa da violinista, por puro e indubitável ciúme. 

- Ara, você demorou demais para responder... Ou é por que queria sair com ela, Tenoh?

- É claro que não, princesa... Pensei que elas vinham pedir a matéria. Isso porque enquanto eu fazia a questão no quadro, dei uma espiada e você estava conversando com uma das meninas... Mas é bom saber que esse rubor é por ciúmes...queria te beijar agora, está tão linda assim... – ria, enquanto se aproximava da classe.

- "Argh... nem ficar com raiva de você eu consigo por mais de... um segundo." – cora – A-arigatou... – dizia enquanto entrava na sala – Ah, pelo menos a aula é de artes agora – riu.

- A vingança é uma coisa muito feia, Michiru... – sentava-se, posicionando o cavalete perto do dela.

- Ara... quem falou em vingança? – ria – Pelo menos não podem te mandar fazer contas no quadro agora...

- É, mas contas eu sei fazer, já desenhar... – Uranus pegava com má vontade um dos lápis. Nunca soube diferenciar muito bem a característica deles. Esboço, sombreamento, reforço de traço eram palavras dispensáveis, seus desenhos sempre pareciam borrões.

“A aula de hoje é com carvão pessoal, vamos trabalhar luz e sombra.” – dizia a professora de artes. Trinta e três anos de pura impaciência. “Cuidado com o excesso de pó que ficar na folha, pode borrar todo o trabalho. Por isso, soprem a folha, frequentemente. Não esqueçam do limpa-tipos, do lado esquerdo de vocês, ele serve para apagar eventuais manchas. Aqui temos uma escultura, servirá para treinarmos as sombras. Comecem.”

Haruka baixava a cabeça e suspirava. Se já não controlava bem suas linhas com lápis normais, o que dizer do carvão?

- Ora, não reclame... é tão simples – sorria Michiru, começando o desenho.

- Michiru, você pinta telas de dois metros, por favor...– irritada, a loira acabou limpando o nariz com um dos dedos, sujo de carvão.

- Ah, Haruka... mas eu acho que você deveria pintar o papel e não o seu rosto...
“Tenoh... o que pensa estar fazendo com o carvão? Kaioh-san, mostre-a como se faz...” – falava a professora notando a mancha preta no nariz da aluna.

- Hai... – sorri – Olha o que dá se fazer de engraçadinha no meio da aula – falava baixo, fingindo estar explicando sobre a técnica de desenho.

- Mas eu não sujei meu nariz de propósito!

“Silêncio! Vamos começar traçando as principais linhas...” – continuava a explicar para seus alunos, que a essa altura, riam.

A loira rabisca. Apaga. Rabisca. Quebra um pedaço do carvão. Amaldiçoa. Acaba lembrando que seu rosto ainda estava sujo e discretamente o limpa com uma das toalhinhas perto do cavalete.

- Está tudo bem aí? – olhava-a, tentando não rir. 

- O que acha? Eu transformei a mulher da escultura em um Orc. Mas que monstruosidade, eu pensei que os monstros só aparecessem quando enfrentássemos o mal...

- Isso e quando você desenha – ri – Ara... só um minuto – terminando o seu desenho, aproxima-se mais da corredora – Acha que a professora se importa se eu te ajudar?

- Acha que eu me importo se ela se importa? – resmunga.

“Hã-hã Kaioh...nada de ajudar...” – repreendia a professora.

- Definitivamente, hoje não é o meu dia... – suspirou a corredora.

- Gomen ne... – voltando para o seu cavalete – “Mas eu não tenho mais nada o que desenhar aqui” – Neptune pegava outra folha e começava outro desenho, para se distrair.

Terminando de maneira...um tanto quanto assustadora o desenho, a velocista levanta-se para lavar as mãos, em uma pia na própria sala de artes. Voltando ao seu lugar, termina de escrever o bilhete, que tinha começado na aula de Física. Recordando brevemente de técnicas ninjas, que aprendera nos filmes que vira, entrega discretamente o pedaço de papel à Michiru.
"O que acha de um concerto particular na minha casa depois da aula?” – eram os dizeres do bilhete, seguida por uma carinha de gato desenhada e “dedos” em forma de “V”. Neptune corava ao abrir o bilhete. Afirmando com a cabeça, sorria enquanto dobrava o pedaço de papel.

“Ei ei...o que é isso em suas mãos Kaioh? Deixe-me ver...” – aproxima-se a professora, para desespero das duas.

- Ah, era só o meu... rascunho... – dizia a violinista, guardando o papel na bolsa – E eu terminei o meu desenho...

“E por que seu rascunho estava com Tenoh?”

- “Que mulher maldita! Ela viu! Pense rápido Haruka!” – nenhum plano ou desculpa vinha na mente da velocista. Suando, fitava Michiru, igualmente aflita. 

“Vamos...deixe-me ver...”

- E-estava com ela porque eu m-mostrava o contraste de sombra e luz... mas está mais visível no original, então... "Ara Haruka... diga alguma coisa!”

- Michiru...pode mostrar a ela... – sorria, para total espanto da parceira.

- "Era pra ajudar e não para terminar de estragar tudo!... só pode ter ficado louca de vez..." Ah, não, não, eu... eu não gostei daquele desenho então...

- Mostre Michiru, pra ela ver que não tem nada demais...afinal estamos atrasando a aula...
“Exatamente, Tenoh... Vamos senhorita Kaioh.”

- "Kami-sama... e agora?" H-hai... – entregando o papel, baixava a cabeça, imaginando o que viria.

Veloz como o vento, Haruka puxa o papel das mãos de Michiru, e engole. Ali, no meio da classe. Cinco segundos para mastigar e mais cinco para engolir. Poderia fazer até mais rápido, mas ganhara um desconto por não ter água perto. Se bem que, considerando sua atitude insana, água não seria problema, pois a Sailor dos Mares, preparava mentalmente um Maremoto.

“Tenoh!! O que você fez?! É o bastante, fora!”

Com um meio sorriso e ainda tossindo um pouco, levantava-se vitoriosa, ou pelo menos assim se sentia. Michiru, ainda sem acreditar no que tinha visto, indagava mentalmente – "Esse era o seu plano brilhante?! Arghh!" – enquanto a sala era preenchida por risadas dos colegas.

“Insolente! Está suspensa da próxima aula, Tenoh.” – tossia, recompondo-se – “Bom, vamos ver como ficaram os trabalhos...”

- “Grande... realmente você se supera, Haruka...” – Ah, Hai... – pegando o trabalho solicitado, acidentalmente derruba um outro desenho, onde se via uma praia ao anoitecer – "Ótimo, ela detesta que desenhem algo que não o que ela manda, era só o que faltava”.

“Mitsune, falta sombra na parte interna do braço, conserte. Seiji, sua anatomia ainda tem muito que melhorar, esse pé que você fez está em uma escala errada. Kaioh, hum...bom trabalho com as sombras...vejo que fez o esboço antes, muito bem...mas tente não usar muitos os dedos para esfumaçar, suas digitais estão aparecendo na ponta da folha. No mais está ót...que desenho é esse?”

- É... é só...

“Sim?” – olhando-a.

- É só um desenho que eu fiz porque... porque já tinha terminado o outro e... – a mulher subitamente virava o rosto, atentando as vozes no corredor.

Tenoh-kunnn! O que faz fora da classe? Você não tem aula?” – questionavam algumas meninas que passavam pelo corredor, onde a velocista se encontrava.

“Mas...que conversa é essa?” – virava-se a professora em direção à porta.

- "Kami-sama... nem fora da classe ela para de chamar atenção?" – pensava Neptune.

No corredor, a loira cruzava os braços, fazendo-se de vítima.

- Sim, mas a professora me botou pra fora... 

“Como ousam colocar nosso Tenoh-kun pra fora...?” – dizia uma das meninas, pegando Haruka pelo braço.

- É...mas fazer o que? Vocês não me defenderam... – piscava.

A conversa toda ecoava pela sala de aula...enquanto a Sailor dos Mares quebrava discretamente um pedaço do bastão de carvão.

“Mas nem lá fora ela se cala?” – indagava a professora.

- "Não... ela nunca se cala... E não vai recolher logo os desenhos pra eu poder sair daqui? Espero que tenha esquecido do meu outro desenho...”

“Bom, a aula terminou. Minha paciência idem. Vejo vocês na próxima semana...” – dizia, recolhendo os desenhos.

Pegando sua pasta, Michiru esperava os alunos saírem da classe, indo logo atrás. Olhando para o lado, vira a parceira encostada na parede, com as mãos nos bolsos e expressão totalmente despreocupada.

- Você tem noção de que a classe toda estava ouvindo? Inclusive eu?

- Ééé?

- É! – cruzava os braços.

- Espere, mas eu não falei nada que... – descruzando os braços, inúmeros bilhetinhos caíam das meninas com as quais falara. Arqueando uma sobrancelha, Neptune olha os bilhetes ao chão. Vira-se e sai andando.

- Oe! Michiru! Espere por mim! – juntando os bilhetes, jogava no lixo mais próximo – Ei, ei...eu joguei, eu joguei...

- Então quer dizer “que elas não te defenderam”, não é?

- “Paredes finas...maldição.” Bom, eu só estava brincando...não fique assim princesa, por favor... E Além disso, eu fiz o favor de engolir o bilhete, por nós... – ria.

- Ah, obrigada por me lembrar...que eu devia te matar por isso! Ficou louca de vez? Eu ia... ia dar algum jeito...

- Que jeito? Ela ia te obrigar a dar o bilhete, se você não desse, ia te expulsar...eu prefiro ter meu arquivo acadêmico manchado, do que o seu... E se ela te expulsasse eu ia logo atrás, porque iria improvisar uma obra surrealista, metendo o cavalete naquilo que ela chama de cara. No final eu só adiantei as coisas. – dizia com um sorriso despreocupado.

- Mesmo assim... você quase me mata de susto... – Michiru esboçava um sorriso.

- Ah, Michiru...eu sempre tenho tudo sob controle – gabava-se.

- Isso era sob controle? Então eu devo esperar o pior pra quando você perder o tal controle?

- Ué, depende da situação... – ria com malícia – O que me faz lembrar...os dizeres do bilhete...você ainda confirma? 

- Hum, depois do que você disse àquelas garotas eu já não sei... – voltava a andar, se fingindo de ofendida, mas Haruka estava preocupada demais para notar o joguete. 

- M-mas... 

- Ara...não prometi nada...

- Mas e aquele gesto na sala... eu pensei que... Ou...você se arrependeu? – Michiru ia tentar dizer um "não", mas começou a rir antes. A gargalhar na verdade.

- O que foi?

- Você... – rindo – Ficou... tão... preocupada... que...

- Hunf! Talvez devêssemos deixar o concerto para outro dia – virava o rosto.

- Ara, tentar o meu próprio jogo não funciona – sorri.

- Você pode ir mesmo hoje até minha casa? – suspirava.

- Posso...

- Que horas então? – sorria.

- Bom... suponho que eu tenha que ir em casa, pegar meu violino para o tal "concerto", não é? – voltando a rir.

- Não quer que te pegue?

- Ah... se não for incômodo – sorri.

- Você sabe que não, Michiru... – ia se aproximar para beijá-la mas viu que ainda estava no portão do colégio Mugen e contém-se.

- H-hai...até breve então...

- Eu mal posso esperar... – a loira piscava, antes de sair correndo e acenar.

- Nem eu... – dizia Neptune pensativa. O sorriso denunciara que havia traçado os próprios planos.


(continua)

Capítulo 7 – Mugen (parte 1)

A manhã do dia seguinte chegara quente, sem brisa, nem folhas se mexendo. Mas havia alguém que andava em companhia do vento, ou da representante do mesmo. Kaioh Michiru tinha fisgado quase em um ato egoísta toda brisa daquele dia, Tenoh Haruka estava com ela naquela manhã. 

O fato, é que a menção de "naquela manhã" é falha. As duas, desde que se uniram tendo a praia, o mar e a lua como testemunhas não se separaram...ou quase: muitos beijos, mãos-bobas e conversas e cada uma ia para sua respectiva residência, lamentando cada minuto separadas.

Às seis da manhã, Haruka esperava Michiru na esquina de uma rua, trajeto que se tornou rotineiro e a companhia sempre prazerosa. Porém o destino não era tão agradável assim: Colégio Mugen. Não há esforço para a mente dos que conheciam a conceituada escola imaginar que lá, a disciplina fazia parte da grade de qualquer colegial, querendo ou não. Depois de uma caminhada de minutos, as duas chegam até o local, para enfrentar mais um dia, uma maratona de intermináveis discursos de professores; conversas insossas de diretores sobre os seus respectivos pais, olhares hostis dos inspetores e contato com outros alunos, que as garotas, por escolha ou por um infeliz acaso privavam-se. Porém, a queixa deste último não existia mais, agora elas tinham uma à outra, mesmo que em carteiras separadas...

- Oe Michiru...que aula teremos agora? – perguntava baixinho sentando uma carteira adjacente à da violinista.

- Ara Haruka, onde está seu horário?

- Eu saí correndo de casa pra não me atrasar...gomen ne? – ria sem jeito.

A conversa é momentaneamente cessada, ao notarem a presença do sensei. Era um senhor – em seus cinqüenta e dois anos – sisudo, cabelos grisalhos, terno cinza e gravata preta. 

A mesma cor insípida que usava há anos, quando se tornou mestre. Portava uma régua e um livro de 464 páginas, que poderia explicar o porquê de ele andar meio corcunda.

- Argh! Física? Só será útil quando ele abordar a questão de velocidade – dizia a loira, quase bocejando. 

- Você já sabe tudo sobre motores, responde antes do professor... – riu Michiru.

- E na aula de artes, você já entra com o braço levantado engraçadinha! – a corredora retrucava, não se dando conta do tom de voz.

“Tenoh!” – diz o professor visivelmente irritado – “Gosta de aparecer, não é? Por que não vem até o quadro fazer a primeira questão?” – ao ouvir, Michiru virava-se, de sobressalto.

- Ah... G-gomen professor, Haruka só estava me... me explicando sobre... uma... lição... – tentava amenizar a violinista.

“Explicando? Não foi isso que vi. Portanto, se ele está tão bem-humorado, senhorita Kaioh, virá fazer essa questão com a mesma alegria, não é Tenoh?”

- Hai... – dizia Haruka, aproximando-se morosamente do quadro.

- "Pelo menos ela vai acertar e vai calar a boca dele...” – pensava Neptune.

Nesse ínterim, algumas meninas aproveitando a distração do professor – que acompanhava o desenvolvimento da questão – sussurram algo sobre Haruka, indagando umas às outras quem teria coragem de falar com “ele” no intervalo, apostando um lanche, em quem ousaria chamá-lo para sair. Até que uma, toca o ombro de Michiru...

Kaioh-san?”

- Sim? – virava-se, estranhando a pessoa que a chamara.

“É que, eu e minhas amigas, apostamos em quem conseguiria falar com Tenoh-kun no intervalo, você pode me dar uma dica em como devo falar? De que tipo de garota Tenoh-kun gosta? Notei que você é...próxima...dele...” – o tom que falara transbordava sarcasmo, o qual foi percebido pela violinista. Risinhos incômodos das outras meninas chegam ao ouvido de Michiru.

- "Vou te contar de que tipo de garota ela gosta... e não é do seu! Mantenha a calma Michiru, mantenha a calma..." Se quiser falar com Haruka, é melhor ser você mesma, não acha? – tentava parecer o mais simpática possível – "Porque assim você percebe logo que não tem chance...” – pensava, tentando conter seu incômodo perante a situação.

“Hum, entendi...mas sabemos que é próxima dele, Tenoh-kun deve ter comentado com você sobre as meninas que ele ficou... Ou seja, ele tem um tipo, só queremos saber qual.” – a garota sussurrava antes de rir baixo – “Afinal, vocês chegam ao Mugen juntos todos os dias...” – dessa vez ela olha para as outras meninas, que, atrás dela também riam.

- "Sim, chegamos juntas e provavelmente iremos embora também. Será que a sala toda cuida tanto assim da vida dela? Cuide da sua própria vida, desocupada! Argh...chega, chega Michiru... controle-se e principalmente tente não usar um ‘Deep Submerge’ nessa... coisa. Ai, mas que tipo de conta interminável é essa Haruka? Quer fazer o favor de voltar para o seu lugar logo?" Sim, chegamos, mas nós não...falamos sobre isso... “E nem queira saber sobre o que falamos...”

“Ah sim, mas você não saberia dizer se ele tem namorad...” – a garota é interrompida pela presença do próprio objeto da conversa. Haruka chega e com uma expressão emburrada, senta silenciosamente, esperando o professor analisar sua resposta.
“Depois eu falo...Kaioh-san.” – dizia a menina, seguido de uma risada baixa.

- Hai... "Não fale. Porque eu não me responsabilizo pela minha resposta!" – suspira – O que foi? – fitava a loira.

- Aquele inseto ficou dizendo em cada número que eu colocava estava errado, só porque fui por um caminho menos complicado do que ele ensina... Oe, o que essa menina queria?
- "Queria saber sobre a sua vida... Aliás, se me permite sobre a nossa vida... Não, Michiru, você não vai começar com isso no meio da aula... principalmente depois de ter sido chamada a atenção pelo professor..." Ah, n-nada demais...

“Tenoh!” – vociferava o professor novamente, tendo ajuda de sua régua, que batia no quadro.

- Kami-sama... – dizia a velocista em voz baixa.

- “Lá vamos nós...” – pensou Michiru.

“Sua questão...está correta.” – o homem dizia um tanto quanto desapontado, não achou que a velocista resolvesse tão facilmente a questão. 

- “Esse suspense todo pra dizer isso? Mas que filho da...” – Haruka balançava a cabeça negativamente enquanto pensava.

- “Sensei, você devia me pagar por ter a feito ir até a lousa, só pra dar brecha pra essas parasitas aqui ao lado.” – resmungava Michiru.

“Bom, continuemos a aula. Espero que sem mais interrupções. No próximo exemplo vamos imaginar dois pilotos em uma corrida de Fórmula 1. Na última volta a distância entre eles é de 80 metros e ambos os carros estão na mesma velocidade...então, o carro de trás...”

Haruka se empolgara momentaneamente com a questão, mas logo perdera o interesse, pela tediosa voz do professor Uchida, e seus hipnóticos movimentos ao escrever as fórmulas do que explanava. Ali, naquela sala, Ela tentava combater um mal muito maior: o sono. Sua cabeça começara a pender e sua mente desligar-se desse mundo. Beliscando discretamente uma bochecha, forçava-se a acordar...

- “O que vou fazer agora? Essa aula está um saco... Michiru é bem mais interessante.” – pensava com um sorriso levado – “O que posso fazer pra matar o tempo?”

Tirando cuidadosamente um pedaço de papel do caderno, a velocista rabiscava algumas palavras. De vez em quando, olhava para o quadro fingindo realmente prestar atenção no sensei.

- “Nossa... como ela está concentrada... o que será que houve?” – espiava rapidamente sua parceira, na carteira do lado esquerdo.

Tenoh-kun, pode me emprestar a borracha?” – perguntava a jovem atrás de Haruka, a mesma menina com quem Michiru tinha falado educadamente e pensado não tão carinhosamente assim.

- Ah, pode usar a minha – sorria Neptune, entregando uma borracha a ela e fingindo não notar o olhar irritado da garota.

- Oe... Mas tem uma borracha debaixo do seu caderno... – dizia a loira meio confusa. Parecia não ter notado o breve jogo da garota.

Constrangida, a jovem olhava para a borracha com desconsolo, não era afiada para cometer seppuku

“Ah...obrigada...”

- "Argh... concentre-se na sua conta Michiru... e tente ignorar o ser parasita ao seu lado..." – a violinista resmungava, estava ficando impossível de controlar seu ciúme.

“Mas que conversa é essa aí atrás? Você de novo no meio Tenoh? Não pode esperar o intervalo para importunar as meninas?” – reclamava o professor.

- M-mas eu...gomen. “Professorzinho filho-da...”
 
- "Ara, essa coisa fica inventando motivos para falar com a ‘Ruka e sobra pra nós ainda? Ai... quanto tempo tem essa aula afinal?"

“Tenoh-kun, pode me ajudar a resolver essa questão?”

Chamava-se Rumiko e tinha a mesma idade das Sailors, dezesseis. Sua personalidade ousada tornara-a um exemplo para algumas meninas da classe. Sempre achou a corredora atraente, talvez ainda mais quando percebeu que agora ela tinha companhia. Achava interessante começar uma disputa com alguém do nível de Michiru.

Neptune entendera muito bem o que Rumiko estava fazendo. Contudo, não deixaria transparecer. Sabia que se o fizesse, cairia na armadilha da estudante. Deixaria que Uranus a ensinasse, por hora. Entretanto, se isso continuasse talvez não mantivesse a compostura. Não seria má idéia afogar uma ou duas meninas na água salgada de seu Maremoto.

Tocando o tão aguardado sinal, Haruka levantou-se, guardando o bilhete no bolso, depois terminaria, afinal tinha mais uma aula pela frente. Assim que se dirigiu à porta, as mesmas garotas com quem Michiru falara, acompanharam Uranus com o olhar, enviando ondas malignas à companheira que admiravam.

(continua)